quinta-feira, 30 de outubro de 2003

O dia em que Bush citou Marx

Um dos aspectos mais impressionantes da esquerda circense é a falta de cultura - fruto inevitável das reformas curriculares de cunho ideológico em nossas escolas e do empastelamento mental promovido nas fileiras dos partidos.

O frouxo aporte teórico de nossa esquerda - adquirido, invariavelmente, pela via planfetária - , não raro apresenta contradições que denunciam o total desconhecimento das idéias propagadas por aqueles que são considerados seus maiores ícones.

Prova deste desconhecimento é o fato de encontrarmos, dentre aqueles que se dizem marxistas, os maiores defensores do extremismo islâmico. Geralmente justificada pela bandeira politicamente correta do "respeito à diversidade", esta simpatia pelo fanatismo religioso oriental foi, desde os atentados de 11 de setembro, canalizada para um anti-americanismo feroz.

Ocorre que, se tivesse realmente lido Marx, nossa delirante esquerda hesitaria ante a defesa da cultura islâmica tal qual ela se apresenta em seus redutos mais extremados. Muito pelo contrário: tivesse ela realmente bebido os conceitos marxistas direto da fonte, estaria hoje apoiando a campanha de George W. Bush.

Bastaria, para tanto, que tivessem lido um artigo intitulado " The future resultes of British rule in Índia", publicado em 22 de julho de 1853, no qual o pai do comunismo deixa clara a sua posição sobre a intervenção ocidental no oriente:

"Por mais que agrida os sentimentos humanos testemunhar esta inúmeras organizações sociais patriarcais e inofensivas sendo desorganizadas e dissolvidas em suas unidades, lançadas num mar de sofrimentos, e seus membros individuais perdendo ao mesmo tempo sua antiga forma de civilização e seu meio de subsistência hereditário, não devemos esquecer que estas idílicas comunidades, ainda que pareçam inofensivas, sempre foram as bases sólidas do despotismo oriental;que elas limitavam a mente humana no âmbito mais estreito possível, dela fazendo instrumento dócil da superstição, escravizando-as sob regras tradicionais, roubando-lhe todas a grandeza e as energias históricas. Não devemos esquecer o egotismo bárbaro que, concentrando-se em algum pedaço de terra miserável, tranqüilamente testemunhou a ruína de impérios, a perpetração de crueldades indizíveis, o massacre da população de grandes cidades, sem lhes dar maiores considerações do que a eventos naturais, ele próprio a presa indefesa de qualquer agressor que lhe percebesse a existência. Não devemos esquecer que estas pequenas comunidades eram contaminadas pelas distinções de castas e pela escravidão, que subjugavam o homem a circunstâncias externas ao invés de elevá-lo à condição de soberano das circunstâncias, que transformaram um estado social que se desenvolvia num destino natural imutável."

Revelador enquanto ode ao progresso europeu ocidental, o trecho acima demonstra quão incoerentes são os protestos de "respeito à diversidade" vindos daqueles que se dizem marxistas. E bem poderia ter sido lido por Bush, sem que se alterasse qualquer vírgula, na noite em que este declarou guerra ao Iraque.

Nenhum comentário: