domingo, 4 de abril de 2004

O átomo e o fio do bigode.

O Brasil está dificultando a inspeção da Agência Internacional de Energia Atômica - órgão da ONU - na fábrica de enriquecimento de urânio a ser inaugurada, no próximo mês, em Resende (RJ).

Chegando à imprensa repleta informações extra-oficiais, a notícia informa que a principal alegação das autoridades brasileiras gira em torno do sigilo tecnológico. Já o Ministro Eduardo Campos mostra-se indignado com a desconfiança da AIEA, uma vez que tanto pela Constituição nacional quanto pelo Tratado de Não Proliferação, assinado em 1970, o Brasil demonstra claras intenções de jamais enriquecer urânio para fins bélicos.

Não entendo a indignação do ministro. Durante a campanha presidencial, Lula declarou que achava injusto o Tratado de Não Proliferação. Também o ex-ministro Roberto Amaral andou dizendo que o Brasil não deveria abandonar as pesquisas na área da fissão nuclear - base para a produção da bomba atômica.

Ou seja: toda esta confusão é mais um fruto da inconseqüência discursiva do nosso atual governo - aspecto que temos tratado, com algum insistência, neste blog. O discurso - principalmente o anti-americanista - tem sido a via pela qual este governo procura acalmar as alas mais decepcionadas da esquerda circense. Mas quando se trata de sofrer as conseqüências deste mesmo discurso, o governo mostra-se indignado.

Pragmáticos e pouco afeitos aos acordos baseados no "fio do bigode", os americanos estão, como sempre, apelando para um raciocínio lógico: se nada há, deixem a AIEA inspecionar. Já a proposta das autoridades brasileiras é passível de provocar gargalhadas: querem permitir apenas que os técnicos da ONU espiem por cima dos tapumes da obra.

No que me diz respeito, penso que uma inspeção total e irrestrita é de interesse da sociedade brasileira. Não só para se ter certeza de que o nosso país está cumprindo as promessas de não manipular urânio com fins militares mas, principalmente, para nos assegurarmos de que tal procedimento está sendo feito dentro de rígidas normas de segurança.

A somatória de alta tecnologia, escassez de recursos e desleixo governamental já nos garantiu sérios problemas. No passado mais recente, está o episódio da base de Alcântara. No mais remoto - e mais temerário - o episódio do "Cesio 137".

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