segunda-feira, 12 de abril de 2004

Rio: sem punição não há solução.

Fico impressionada como, diante da guerra civil que assola as favelas cariocas, ainda surgem pessoas para sugerir, em rede nacional de televisão, "um maior diálogo com a comunidade", " a realização de debates " ou coisa que o valha. Me impressiono porque, em primeiro lugar, agora não é hora para isso. Em segundo, porque ninguém parece se dar conta de que esta tem sido a estratégia utilizada nos últimos vinte anos. E ela é furada, meus amigos.

O problema da criminalidade neste país atende por dois nomes: impunidade e drogas. A questão do crime organizado no Rio não foge a esta lógica. Nas duas últimas décadas, assistimos a um movimento de afrouxamento moral em relação ao crime. Tal afrouxamento, principalmente no que se refere ao tráfico, teve como a base justificativas de cunho social, político e ideológico.

Diante da injusta distribuição de renda do país, o tráfico de drogas passou a ser encarado mais como questão social - e menos como crime. Pelo fato de habitar a favela - local de pobreza exponencial - o traficante é, hoje, encarado mais como excluído social do que como criminoso. Através desta inversão de estereótipos os incluídos da sociedade podem expurgar sua culpa em relação aos menos favorecidos - livrando-se, talvez, de tomar uma atitude mais concreta para resolver o problema sob o ponto de vista político.

Por outro lado, também o usuário de drogas tornou-se beneficiário de maior condescendência. De infração, o uso de drogas foi se transformando, pouco a pouco, em doença - psicológica ou emocional, se o usuário é oriundo de camadas abastadas; doença social, se ele pertence à massa dos chamados excluídos. Este processo culminou em fevereiro último, quando a Câmara dos Deputados aprovou o fim da prisão para dependentes de drogas.

Os que me acompanharam até aqui logo entenderão porque seria infrutífero, neste momento, ouvir a sociedade. No que diz respeito à criminalidade, a sociedade tornou-se refém de uma ideologia permeada de culpa - bem ao gosto da nossa herança judaico-cristã. Nossa incapacidade política de resolver questões sociais nos impede de ver o tráfico na simplicidade do que ele realmente é: um crime.

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