segunda-feira, 21 de junho de 2004

Morreu o Brizola.

E morre, com ele, a minha infância política.

Tanto aquela em que eu, embaixo de uma parreira, ouvia meu avô narrar as estripulias da legalidade, quanto aquela outra "infância política" - mais longa e subjetiva - que me fazia acreditar que um bom líder salvaria este país.

Pois havia algo de messiânico em sua figura.

Deste messianismo, talvez só possam entender aqueles gaúchos que cresceram durante o seu exílio. Aqueles que, pelo desafio da oralidade familiar ao silêncio ditatorial, aprenderam a aguardar o "advento" de seu retorno.

Recém feita eleitora, jamais me filiei ao PDT, poucas vezes concordei com o Brizola, mas sempre acabava votando nele.

Era visceral.

Minhas mais sofisticadas faculdades intelectuais não eram páreo para aquele olhar vivaz, para aquela voz melodiosa que se arrastava em longos e apaixonados discursos. Meus adolescentes conhecimentos políticos se viam evaporados tão logo ele começasse sua defesa em prol das criancinhas e da educação.

Nunca eleito presidente, em eterna e confortável posição de denúncia, Brizola cumpria à risca o seu papel de demolidor, apontando os erros onde quer que os percebesse. Messias jamais concretizado, contentou-se em ser uma espécie de João Batista: voz solitária a clamar num deserto de hipocrisia e imoralidade política.

E era exatamente isto que, à certa altura, passei a esperar dele.

Isso... e que fizesse enlouquecer os mediadores de debates que, em vão, tentassem lhe interromper a fala.

Que soem os alarmes no segundo andar: está chegando um incorrigível sedutor.

Se ninguém tomar providências, os anjos vão todos virar brizolistas.

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