terça-feira, 29 de junho de 2004

Vitória da democracia yankee: imprensa nacional sem pauta.

Há choro e ranger de dentes nas salas de imprensa do Brasil.

Isto porque, de uma semana para cá, tem sido mais difícil manter aquele jogralzinho anti-americanista que embalou os devaneios do jornalismo tupiniquim.

Após restabelecer a soberania iraquiana, os EUA acabam de entregar Saddam aos órgãos jurídicos daquele país. Não bastasse isso - e a brilhante estratégia de antecipação da entrega de poder, que fez de bobos tanto os terroristas quanto a imprensa -, também internamente a terra de Tio Sam dá mostras de vigor: revogado por ocasião dos atentados em 11 de setembro de 2001 - e pelo estado de guerra que seguiu a eles - o Estado direito de Direito volta a funcionar no país. Tal retorno, decidido pela Suprema Corte, garante à qualquer pessoa detida a chance de fazer-se ouvir na Justiça. E isto se aplica a americanos ou estrangeiros - inclusive aqueles detidos em Guantánamo.

Sinais tão claros de um retorno à normalidade por parte dos EUA não serão bem recebidos, já que esvaziam a pauta internacional da imprensa brasileira - engajada, desde 2001, na maior campanha xenófoba que este país já viu. Esquecidos de como é trabalhar sem ter um inimigo previamente eleito, nossos jornalistas devem estar todos à roer unhas.

Mas eu não diria que é caso para desespero.

Sempre é possível dar conotações jocosas às vitórias daqueles que invejamos.

Assim, à exemplo do que vem acontecendo com a devolução da soberania ao Iraque, as próximas pautas deverão falar do "golpe publicitário eleitoral" por trás da entrega de Saddam. Igualmente, a decisão da Suprema Corte será encarada como uma "derrota do governo Bush". Que tal decisão tenha sido concomitante ao fim do estado de guerra - numa clara alusão de que está em sintonia com as decisões governamentais - não passará pela cabeça dos nossos jornalistas.

Há também, é claro, aquela estratégia mais sofisticada de dar destaque a qualquer norteamericano que se disponha a falar mal de seu próprio país - trunfo largamente utilizado nos últimos três anos, que produziu ícones tão falaciosos quanto Michael Moore. Desde 2001, fomos invadidos por uma multidão de ilustres desconhecidos, cujas obras anteriores - quando existiam - não haviam merecido qualquer atenção, mas que agora eram guindados ao patamar de "grandes especialistas", pelo simples fato de criticarem a política norte-americana, Bush ou o american way of life.

Tão empenhada nesta campanha xenófoba esteve a nossa imprensa, que jamais deu-se conta de um preceito básico do jornalismo: a repetição insistente de um discurso não é notícia. Notícia é conflito, incoerência e ruptura.

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