quinta-feira, 8 de julho de 2004

Tango ingrato.

É o que dá unir-se a caloteiros.

Desde que assumiu a presidência da república, Lula empenhou-se em apoiar as desgraças de Kirchner frente ao FMI. Em março último, quando a Argentina estava a apenas cinco horas de cometer um calote, o presidente brasileiro gastou o dinheiro do contribuinte em ligações telefônicas para dirigentes da França, Alemanha e Espanha a fim de obter-lhes solidariedade em prol de Kirchner. Ligou também para Bush, solicitando uma atitude compreensiva diante da situação dos hermanos. Era a "aliança Brasília-Buenos Aires", que previa estratégias conjuntas para lidar com as dívidas públicas dos dois países - e que, dias depois, foi seguida pela assinatura da Ata de Copacabana.

Maravilhada de ver o torneiro mecânico guindado à posição de lider do terceiro mundo latino - e, talvez, antecipando que aquele apoio a um premente calote argentino pudesse indicar o caminho a ser seguido pelo próprio Brasil - a imprensa tupiniquim delirou.

Pois, agora, o retorno nos chega na forma de um velho e previsível tango: Kirchner está ameaçando ampliar as restrições impostas aos produtos brasileiros. E isto no momento em que o próprio Kirchner está passando a Lula a presidência temporária do morimbundo Mercosul.

É como diz aquele belíssimo Tango Ingrato de Zabaleta e Larrea:

Ahora me toca olvidar

tus palabras de despido

como si es fácil borrar

todo lo que hemos vivido.

sexta-feira, 2 de julho de 2004

Quando as hienas enlouquecem.

Enquanto a Ana Paula Padrão, na quarta-feira à noite, externava docemente seu temor de que Saddam não seja tratado com justiça, as reações do mundo árabe divergem. O rei Abdullah, da Jordânia, diz que, se preciso for, enviará tropas ao Iraque para garantir a manutenção da ordem. Já a Al Qaeda emite novas ameaças contra a Europa, lembrando que o prazo três meses dado por Bin Laden termina em 15 de julho.

Talvez seja casualidade que as hienas tenham escolhido esta data para lembrar tal prazo. Mas creio que não. A imagem de um Saddam abatido - porém, com disposição suficiente para desafiar a justiça - deve ter promovido frisson na matilha.

Mas o que importa é que continuam a exigir o impossível, prometendo morte e destruição no caso de não serem atendidos.

Bobagem.

Esta gente já provocou morte e destruição na Espanha e nos EUA sem qualquer aviso.

Espera-se, então, que os governos europeus reajam a esta mensagem da mesma forma que reagiram à proposta de trégua emitida por Bin Laden em abril último: com um sonoro "vem que tem".

Mas eu realmente não acredito que a Al Qaeda venha a promover um ataque nas proporções que está prometendo - agora chegam sugerir que os muçulmanos deixem a Europa ou se abasteçam com mantimentos e dinheiro para um mês. A organização pode ser louca, mas não é burra: um ataque destas proporções seria a desculpa perfeita para que o ocidente "passasse o rodo".

Em outras palavras: todo mundo sabe o que se deve fazer com um cachorro louco.