domingo, 5 de setembro de 2004

Elefante na cabeça.

Acho que o Bush ganha.

Na verdade, eu venho achando isso desde os primeiros discursos proferidos logo após o 11 de setembro. Naquele momento, Bush conseguiu devolver dignidade a um povo que estava profundamente abalado por sofrer uma ataque tão monstruoso em seu próprio território. E dificilmente o povo esquece aqueles que se mostram fortes em momentos difíceis.

É verdade que houve um momento - especificamente, quando vieram à tona as denúncias das torturas nas prisões iraquianas - que eu cheguei a duvidar da reeleição. Somadas à Comissão de Inquérito sobre o 11 de setembro, elas pareciam compor um quadro realmente ameaçador para a reeleição de Bush.

Porém, ao que tudo indica, a poeira de ambos os processos baixou e Bush parece ter saído da coisa ileso - senão fortalecido.

Agora as primeiras pesquisas de opinião realizadas logo após a convenção republicana apontam para uma vantagem de Bush em relação a Kerry. Na mais promissora delas - realizada pela Times - o atual presidente aparece com 11 pontos percentuais a mais que o condidato democrata.

Não dá pra dizer que estes números são supreendentes. Para além da força discursiva de um Arnold Schwarzenegger - ou do indiscutível trunfo de se ter um senador democrata como Zell Miller apoiando a candidatura republicana -, a estratégia de Kerry já dava sinais de fraqueza por ocasião da própria convenção democrata. De fato, um estudo comprova que candidatos desafiantes só conseguem solapar reeleições para a Casa Branca quando disparam nas pesquisas logo após sua própria convenção. E os democratas não conseguiram este feito.

Mas o democratas parecem ter problemas que estão se tornando estruturais. A já tradicional fuga de votos democratas para Ralph Nader, soma-se - extamente como ocorreu com Al Gore, há quatro anos - à escolha de um candidato pouco convicente, cujo discurso perde força na mesma proporção em que tenta ser politicamente correto.

Também as conjunturas parecem conspirar a favor de George W. Bush. Os inaceitáveis ataques terroristas na Rússia dão força ao discurso de Bush para o terror - e a declaração de Putin neste sábado dá a entender que ele está arrependido de não ter se alinhado a atual política da Casa Branca: Nós não temos entendido a complexidade e o perigo dos processos que se desenvolvem em nosso país e no mundo inteiro. Não temos sabido reagir de maneira apropriada. Temos demonstrado debilidade e os fracos sempre perdem." - declarou o presidente russo.

Não bastasse isso, a temporada de furacões está servindo para manter Jeb Bush - irmão do presidente e atual governador da Flórida - o tempo todo na televisão. Em todos os pronunciamentos que tem feito à população de seu Estado, Jeb não deixa de citar o enorme apoio que está recebendo dos órgãos federais. A questão não é um mero detalhe, se considerarmos que um dos fatores que colaboraram para enterrar o sonho de reeleição de Bush pai foi, justamente, sua demora em declarar estado de calamidade pública na Califórnia - assolada por um furacão naquele ano.

É certo que tais aspectos conjunturais irão representar alguma folga nas urnas.

Mas não é por isso que George W. Bush irá eleger-se.

De fato, a reeleição de Bush foi forjada nas semanas seguintes ao 11 de setembro. Naquele momento o presidente apoderou-se de um discurso que é a própria essência e, ao mesmo tempo, mito fundador do Estados Unidos da América: o discurso da coragem e da união diante da adversidade; o discurso que nomeia os americanos como defensores mundiais da liberdade, da democracia e dos direitos humanos; o discurso, em suma, do heroísmo norte-americano.

Para os norte-americanos, este é um discurso irresistível. Em primeiro lugar, porque aquele é um povo que cultua e admira seus heróis - sejam eles de cinema, de quadrinhos ou de carne e osso. Em segundo lugar, porque é um discurso verdadeiro. E, aqui, é preciso voltar àquele 11 de setembro para lembrar que, mal os aviões se chocaram contra as torres, já surgiram centenas de heróicos voluntários para auxiliar nas operações de resgate. É preciso lembrar que o próprio Schwarzenegger, no ano passado, já eleito governador, se jogou nas águas de Malibu parar salvar uma banhista que se afogava. E eu, em especial, preciso lembrar de um terremoto em San Francisco, em 1989 - quando os hóspedes americanos, sem que ninguém lhes dissesse nada, foram os primeiros a esvaziarem seus frigobares e trazerem o que tinham para o saguão do hotel, a fim de se organizarem para enfrentar uma provável interrupção no abastecimento da cidade.

Contra um discurso tão simples e tão verdadeiro, não há adversário que resista.

Muito menos se ele for evasivo e balbuciante como Kerry.

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