segunda-feira, 15 de agosto de 2005

O brasileiro não resiste a um defunto.

Com todo o respeito à família de Miguel Arraes, taí uma coisa que deve ser dita.

Não sei se eu já tinho lido esta frase em algum lugar, mas ela insistiu em martelar meu cérebro durante todo o dia ontem, enquanto a imprensa fazia sua costumeira homenagem ao ilustre pernambucano.

Porque o fato inegável é que, nem bem se acomodou o cadáver no caixão, o brasileiro já se encontra a postos para realizar uma grande catarse coletiva. Do piloto de Fórmula 1 ao político, todos têm direito a esta demonstração nacional de dor que deixa em suspenso, por um bom par de dias, qualquer traço mais feio de humanidade que porventura se pudesse apontar no falecido.

O que me leva a outra frase incômoda: toda a solidariedade é desprovida de senso crítico.

Não estou falando de Miguel Arraes. Mesmo que eu não conhecesse a sua trajetória, fica impossível não gostar de alguém que nos legou Guel e Fafá de Belém. Estou falando de todos os defuntos célebres deste país - e do poder oculto, quase místico, que eles exercem sobre a memória nacional. Estou falando de defuntos ainda não totalmente consumados - como aquele que foi aplaudido no velório de ontem. Estou falando de defuntos ressuscitados - como aquele outro, que apareceu no Fantástico para nos assombrar.

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