terça-feira, 27 de dezembro de 2005

Desapego

Encerrado o prazo para os deputados abrirem mão dos R$25 mil correspondentes a convocação de janeiro, temos um total de 28 nomes que se negaram a receber o dinheiro. Alguns optaram apenas por não receber. Outros, fizeram doações a entidades filantrópicas. Há, ainda, aqueles que se atrasaram ao requerer o cancelamento do valor junto à diretoria-geral da Câmara, mas que pretendem doar o dinheiro - caso de Luciana Genro (PSol-RS) e Raul Jungmann (PPS-PE).

No Senado, o prazo para a desistência de recebimento do salário extra encerra em duas semanas - e é prováel que a atual lista, que conta com apenas quatro nomes, venha a crescer.

Este é um daqueles momentos em que a gente não sabe se comemora ou emite impropérios. Porque, por mais que concordemos que o pagamento de extras a parlamentares é um absurdo, sabemos que muitos irão se aproveitar da situação para fazer demagogia. É, por exemplo, sintomático que o PT - após passar o ano envolvido em denúncias de corrupção - esteja liderando a lista dos parlamentares que abriram mão de receber o dinheiro. De qualquer forma, parece que há um estatuto do Partido dos Trabalhadores que proibe o recebimento deste tipo de vantagem - o que diminui o impacto dos que já abriram mão, ao mesmo tempo em que nos obriga a questionar sobre o silêncio dos demais parlamentares petistas.

Numa situação como essa, o ideal é que a súbita demonstração de desapego pudesse ser cruzada com outras informações a respeito dos parlamentares. Então, talvez, o eleitor pudesse separar o joio do trigo, identificando quais são os nomes realmente sérios destas listas. Mas, em um país com baixíssimos índices de escolaridade e leitura, informações mais detalhadas são artigo de luxo. Logo, o que restará destas listas é o de sempre: artilharia para jocosos discursos de campanha.

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