segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Um partido afônico.

Uma vez que perdeu a bandeira da ética, o PT ameaça adentrar o ano eleitoral sem um discurso consistente que, possa, a exemplo do que aconteceu na campanha de 2002, diluir as diferença entre as muitas facções que compõem o partido e agradar aos simpatizantes. Isto todo mundo já sabe.

Só que, considerando o que se viu nos últimos dias, as lideranças do partido não estão conseguindo encontrar outro discurso além daquele ensaiado no alvorecer desta crise: de que o PT está sendo perseguido pelas "elites" - que, não raro, vem acompanhado daquele que fala de preconceitos em relação às origens humildes do presidente Lula. E a cassação de Dirceu apenas acrescentou um igrediente a mais ao pacote: agora, as carpideiras do ex-ministro todo poderoso falam também em "uma campanha contra o regime de liberdades democráticas".

Não vai colar.

Em janeiro de 2003, exceto por raríssimas exceções, o país babou de satisfação ao ver um ex-operário subir a rampa do Palácio do Planalto. Desde maio de 2005, o povo tem assisitido a um festival de dirigentes petistas desmentir no almoço aquilo que haviam afirmado no café da manhã. E, na semana passada, algumas bengaladas levaram o Brasil verdadeiramente ético ao delírio - de modo que a Câmara dos Deputados decidiu-se, fialmente, por ouvir a voz das ruas.

O PT perdeu, há alguns meses, a única saída capaz de garantir alguma dignidade ao seu discurso eleitoral para o próximo ano: deveria ter promovido uma verdadeira faxina na legenda, expulsando todos os envolvidos na crise.

Ao ignorar que aquele era o momento do "tudo ou nada", o Partido dos Trabalhadores acabou por arriscar as cordas vocais. E, a menos que ocorra alguma grande reviravolta, chegará ao pleito de 2006 sem um discurso convincente. Entrará na campanha presidencial afônico.

Nenhum comentário: