domingo, 4 de junho de 2006

Bola parada.

Esta semana, ao ler um post do Lins sobre o campeonato brasileiro de 1980, me dei conta de como funciona a minha relação com a paixão nacional.

Futebol me provoca sonolência. Aquela narrativa cadenciada, sempre no mesmo ritmo, funciona como o tique-taque de um relógio antigo. No rádio do carro, então, é tiro e queda: durmo quase que instantaneamente - uma vez que eu esteja no banco do carona, é bom que fique esclarecido.

Isto vai parecer quase uma heresia, quando eu lhes contar que meu pai era jogador de futebol. Sim, senhores: chegou a jogar no célebre Renner de Porto Alegre, embora tenha pertencido a uma geração para a qual "amor a camisa" significava ter que trabalhar em outra coisa para sobreviver.

Pois nem estes bons genes funcionaram de modo a me fazer mudar de idéia: acho futebol uma coisa muito, mas muito monótona. E me irrito, profundamente, com o tempo que se leva para armar uma jogada, chegar à pequena área e....nada! Bola por cima da trave, ou escanteio, ou qualquer outra coisa que não seja um gol.

Tanto isto é verdade, que só paro na frente da TV quando algo extraordinário acontece. Se alguém soltar um galo preto no meio do gramado - houve uma época em que isto era moda - ou um torcedor mais fanático invadir o campo para abraçar seu ídolo, lá estou eu, olhos grudados na telinha.

Pois o episódio mais curioso do qual me lembro ocorreu - sim, eu fui pesquisar - no dia 10 de agosto de 1978, no estádio do Morumbi. Partida decisiva para o campeonato nacional: Palmeiras x Guarani. Aos 26 do segundo tempo, o goleiro Leão deu uma cotovelada em Careca e foi expulso. Como o Palmeiras já fizera todas as substituições regulamentares, o meia Escurinho foi escolhido para defender o pênalti. É claro que Zenon marcou 1x0 para o Guarani.

Às vésperas de mais uma copa do mundo, fico imaginando quantas vezes a bola ficará parada, nos braços do juiz, esperando que algum episódio extraordinário seja resolvido.

Podem estar certos: sempre que isto ocorrer, lá estarei, tigela de pipoca no colo, curtindo o melhor do futebol.

Por falar no Renner, no ano passado o inesquecível time gaúcho teve sua história recontada em documentário produzido e dirigido por Alexandre Derlam. Aficcionados podem clicar aqui para ver o trailler de "Papão de 54".

6 comentários:

Tati disse...

Bons tempos aqueles do grande jogador do Renner em questão. Aquilo que era jogador de verdade, suava camiseta pra ganhar uns trocos e garanto que saia de campo muito feliz. Bolso vazio, mas dever cumprido.Melhor que isto, saía com a namorada , a mais bela da cidade pra bailar no Aquidaban....
Beijos
Tati

(N.G.: é verdade, Tati. Aquele era mesmo jogador. E agora deve estar de papo com Telê Santana, discutindo a escalação do Parreira. Um beijão. )

frank rosolino disse...

O Renner teve um meia bastante bom, Breno, que se revelou um excelente ator de cinema no primeiro Orfeu da Conceição.

Sem saudosismo, gente.
O futebol naquele tempo era de uma lentidão incrível.Visto sobre o panorama de hoje parece um filme em câmera lenta.

(N.G.: e quem está falando de futebol, Frank? Estou saudosa em relação ao meu pai. )

lenita disse...

NG, só é monótona a irradiação quando é feita, por exemplo, em Portugal. Desse mal nós não sofremos. Nossos locutores são em geral apaixonados e exagerados!
Não vejo futebol, ou melhor, rarissimamente. Só quando meu filho me diz 'esse deve ser um jogão'. Normalmente, do campeonato europeu, pois os times brasileiros andam ruinzinhos... E aí gosto muito. Acho mesmo que é o único esporte que não é chato na TV. E um gol é emocionante!
Mas, por motivos que hoje já estou cansada de debater, esta Copa não está me entusiasmando nadinha.

Star disse...

NG,

Sua narrativa é hilária, eu que sempre adorei qualquer esporte, ultimamente tenho dormido durante os jogos de futebol, alguém deveria avisar os jogadores que ao contrário do futebol americano, a bola tem que por baixo da trave.

Boa semana,

Beijo

Nina disse...

Minha querida,

Gosto demais de você. Seus textos sempre pertinentes, seu humor no ponto, suas críticas no tempo. É uma alegria saber que existem pessoas interessadas, interessantes e o melhor, que não se acomodam com a situação e fazem sua parte. Esta é você.

Mas não consigo concordar com seu post. Eu não posso entender como é possível não gostar de futebol. Penso e sinto o oposto de tudo que você escreveu.

Na verdade, sou aficcionada por esportes. Quase todos, exceto golf. Assisto até campeonato de handbol na ESPN - e isso até virou motivo de chacota, os amigos dizem que ninguém mais faz isso!

Na-na-ni-na-não,li, reli e não consigo prestar um mínimo de solidariedade, e nem tenho vergonha de dizer: deixa pra lá, ninguém é perfeito mesmo!

Olha, se você não se desiludir comigo porque eu gosto muito, prometo, continuarei sendo sua admiradora fiel, mesmo você não gostando nada, hehehe!

PS.: E hoje estou um pouco mais feliz, meu Flamengo ganhou do Corinthias ontem! Ahã, eu assisti, apesar do "consorte" preferir o Gugu, pode?!?!?!?!

(N.G.: Nina, querida, agradeço a confiança de continuar vindo aqui mesmo depois de saber que a paixão nacional me dá sono. Veja bem: não é que não me comove....poderia me comover se não me fizesse, antes, dormir. hehehhe Um beijo.)

Blog da Santa disse...

Querida, muitas emoções num só post!
Gaúcha que sou, adorei o site do histórico Renner. E, como faço aniversário em 10 de agosto, perdi a cotovelada do Leão (rsss).

Bjs

(N.G.: segunda gaúcha que se revela em menos de 24 horas. heheheh. Estamos espalhados mesmo por este país. Êta povinho que migra. Beijo, Santa.)