Leio por aí que o PSDB vai viver, nos próximos dias, um dilema delicado: ser oposição sem que seus governadores eleitos explodam as pontes de diálogo com o Governo Federal. E - não me surpreende nem um pouco -, enquanto eu preparava este post, José Serra dava notícias de sua capitulação.
Embora alguns tucanos pareçam bastante afoitos para abraçar Lula, eu sugiro cautela e atenção redobrada. A questão primeira é: o PSDB quer ter alguma chance em 2010?
Caso a resposta seja positiva, os tucanos devem priorizar a lição que receberam das urnas no último domingo: derrotar o PT de Lula não é trabalho para uma campanha de três meses ou para um ano e meio de denúncias. Derrotar o PT de Lula implica declarar-lhe guerra implacável desde já - principalmente, fazendo a tal oposição "irresponsável", como eles sempre fizeram, sem jamais admitir que se está agindo assim.
É isso ou nada, meninos emplumados. Não adianta choramingar boas intenções. Não se preocupem que o país agüenta - e se, no final das contas, a coisa ficar muito ruim, teremos reunido um bom material de campanha contra Lula. É assim que se ganha eleição no Brasil - e eu espero, sinceramente, que o PSDB tenha aprendido pelo menos isso com o PT.
Qualquer outra atitude por parte do PSDB será interpretada como desonra pela grande maioria dos que votaram na legenda a fim de que ela se apresentasse como oposição ao governo Lula. Eis, aí, a verdade nua a crua: o PSDB recebeu votos menos pelo que é e mais pelo compromisso de apresentar-se como oposição ao lulismo. Se capitularem neste quesito, os tucanos condenarão o partido a um movimento fatal de retração - e deixarão o flanco aberto para que outros cresçam neste vazio. Ou seja: Fernando Henrique Cardoso que trate de amarrar suas cabritas em corda curta porque o bode do Lula está solto.
Quem se habilita?
Deve-se notar que os escândalos do último ano meio, somados à decepção daqueles quase 40 milhões de brasileiros com a reeleição de Lula, talvez tenha preparado o ambiente para o surgimento de um partido verdadeiramente de direita no país.
Toda a pouca vergonha do primeiro mandato de Lula colaborou para acabar com os pudores daqueles que, embora defendessem muitas idéias de direita, sentiam-se envergonhados de serem rotulados como tal. De certa forma, o desmanche público da imagem lúdica do presidente-operário - e, principalmente, das "boas" a "imaculadas" intenções da esquerda - liberou o pensamento direitista do trauma que ele normalmente carrega em países que, como o nosso, passaram por ditaduras de direita.
Mas é pouco provável que, com a nova cláusula de barreira, alguém se aventure a fundar um novo partido. O mais lógico é que o PFL se apresente como legenda capaz de dar voz a esta "direita desavergonhada" que começa a surgir. Caso se proponha a sair do armário - e a assumir, de fato, um programa de direita - o PFL pode tirar proveito deste novo ambiente para crescer em número de filiados.
Mas não é só isso: diante de uma hipotética capitulação tucana, o PFL será, ao final de quatro anos, tudo o que restará enquanto oposição. Pelo menos para efeitos de discurso, é assim que ele poderá se apresentar dentro de quatro anos, apontando nas alianças tucanas sinais claros de cumplicidade com o PT. De posse de tal discurso - e num quadro eleitoral novamente polarizado - este novo PFL, que a princípio abrigara apenas a direita desavergonhada, irá cooptar um bom número de insatisfeitos dentre aqueles quase 40 milhões que não votaram em Lula. Justamente aqueles que se sentirão traídos se, nos próximos dias, o PSDB tomar alguma outra atitude que não a oposição ferrenha ao governo petista.
A bola está no ar
Resta saber quem saltará para pegá-la primeiro. O PFL está dando mostras de que não quer conversa com o governo Lula. Hora mais do que propícia para o PSDB fazer jus aos votos que recebeu e encontrar alguma organicidade para tentar - agora sim, é hora para isso - pavimentar 2010.
O certo é que quem sentar no colo de Lula, como acaba de fazer o recém eleito governador de São Paulo, dificilmente terá credibilidade para apresentar-se como oposição.