terça-feira, 31 de outubro de 2006

Direto do tanque (I)

Vamos começar a lavagem da roupa suja. A coisa vai ser lenta, no tanque mesmo - e não na máquina -, que é para não deixarmos de lado qualquer manchinha.

Eu não sei quem foi. Mas tenho para mim que alguém deve ter dito a Geraldo Alckmin, tão logo ele ingressou no segundo turno, que era preciso - e possível! - crescer no Nordeste. É o que se deduz ao rever os programas eleitorais e os debates deste último mês: Geraldo Alckmin só falava no Nordeste. Somente na décima hora, quando as pesquisas já mostravam os estragos desta estratégia em regiões onde o candidato tucano fora favorito no primeiro turno, que a campanha de Alckmin lembrou de citar os responsáveis pela prorrogação do peito.

Quando o primeiro programa do segundo turno foi ao ar, eu não acreditei: nenhuma palavra de Alckmin para as regiões sul e sudeste. Nenhuma referência aos percentuais magníficos que o candidato alcançara naqueles estados. Para minha total imcompreensão, a campanha do segundo turno abriu com Geraldo brindando com propostas àqueles que lhe haviam virado as costas e esquecendo-se, por completo, de ao menos mencionar seus recém conquistados redutos eleitorais. Que bajulassem o Nordeste à vontade, se isto lhes parecia imperativo. Mas que não deixassem o flanco aberto onde haviam se saído bem.

O estapafúrdio da estratégia anunciou-se naquela mesma primeira noite do segundo turno, quando a campanha de Lula ignorou os números para declarar, descaradamente: "o Rio grande Sul disse sim a Lula; Santa Catarina disse sim a Lula; o Paraná disse sim a Lula; São Paulo disse sim a Lula" e por aí a fora... Semanas se passaram e fiquei esperando, em vão, que alguém se apresentasse para desmentir.

Não, eu não imaginava um discurso separatista ou algo do gênero. Também não estou desfazendo o Nordeste. Mas numa campanha política deve-se trabalhar com a realidade. E a realidade é que Lula dificilmente perderia pontos no Nordeste. Eu juro que esperava, da parte de políticos tão experientes, o cumprimento de uma estratégia simplória, presente em qualquer manualeco de guerra: é preciso fortalecer a vigilância em territórios já conquistados, antes de aventurar-se pelos domínios inimigos. Principalmente quando o território inimigo é praticamente um caso perdido.

Logo, de onde tiraram a idéia de que Geraldo Alckmin poderia crescer no Nordeste - logo lá, onde Lula reina ! - é uma das muitas perguntas que deve ser respondidas a respeito desta campanha.

Os resultados de tão "genial" estratégia estão aí para quem quiser ver: somada ao terrorismo das privatizações promovido pelo PT, ela provocou a queda do candidato tucano em estados que se haviam apresentado como redutos alckmistas no primeiro turno. E tal queda não foi - como poderia prever qualquer criancinha de dez anos - compensada por um crescimento no Nordeste.

7 comentários:

Marcos Ramos disse...

NG

a impressão que dá é que existe mesmo o tal acordão para que pt e psdb se alternem no poder, e que este mandato estava assegurado a lulla por este acordo.

a campanha do Alckmin foi mesmo um fiasco! e sem o menor apoio do partido.

uma vergonha.

eles podiam, pelo menos, ter respeitado o eleitorado que estava contra lulla.
nem isso fizeram.

Dagoberto de Oliveira Martins disse...

Falou bonito, Nariz!

O Alckmin fez um monte de burrada no segundo turno. Ficou falando de Nordeste, até fez aquela pergunta boba pro Lula montar um palco no debate da Record. O Nordeste já estava perdido, ele tinha que investir onde deram voto pra ele e onde ele podia crescer: Minas e Rio.

Outra burrada foi ter deixado de falar do projeto de Lula para legalizar o aborto. Tinha que ser terrorismo eleitoral mesmo, que nem uma vez o Janio falou do Fernando Henrique: "se eleito, ele vai pôr maconha na merenda das crianças!"

Peregrino disse...

Ah! NG,

Vamos gastar muito tempo tentando entender o que aconteceu e concluiremos pela confirmação nossa antiga suspeita: traição. O Alckmin foi escolhido para perder. Quando se deram conta de que ele poderia ganhar, começaram as sacanagens, ainda no primeiro turno: São Paulo, Minas, Ceará e por aí vai, o abandonaram. Com sua ida para o segundo turno, por medo de que ele fizesse um bom governo (a possibilidade de ser eleittos era bem grande!) e se habilitasse a um segundo mandato, alguns cardeais do PSDB resolveram fritá-lo, embora prometessem apoio irrestrito. Nomes? De tão óbvios, são desnecessários. Basta ver os estados da federação aonde ele estava em ascenção e perdeu fragorosamente. Alguém dirá: ele também perdeu votos em todos os estados que havia vencido com boa margem no primeiro turno. Essa é a exceção que confirma a regra. Siginifica apenas que o Alckmin foi, também, abandonado pela direção do partido. O problema é que contam com um ovo que ainda não foi posto. O Lula apoiará o Aécio em 2010? Só se não conseguir fazer um bom segundo governo, o que é muito provável. Mas o Aécio terá de sair do PSDB, pois aí terá de brigar com o Serra, o Alckmin, a Yeda Crusius (se fizer um bom governo!) e assim por diante.

Marcelo Alves disse...

Ainda não entendi o hiato na campanha entre os turnos. Se não havia a possibilidade do horário eleitoral, a campanha do Alckmin tinha que continuar ditando a pauta. Não foi isso que aconteceu e vimos o PT espalhar, impunemente, o seu arsenal de mentiras. Depois disso foi só ficar na defensiva. Tentar tirar a vantagem do Lula no NE é estratégia de piada de português!!! Acho que muita coisa ainda deverá surgir, pois penso que, tão ruim quanto a derrota, foi ter menos votos que no primeiro turno! Se fosse uma eleição mais apertada não correríamos tanto o risco de um "acordão da governabilidade" como vem sendo ventilado.

Anna Haedel disse...

Houve uma desaceleração da campanha de Alckmin no 2o. turno. Ele vinha numa crescente c/ 7 pts de diferença e de repente aconteceu essa queda vertiginosa.
Realmente não entendo, tb não sou expert no assunto, mas é óbvio que o marketing foi apático, passivo, s/falar no terrorismo eleitoral praticado pela situação.
A impressão q tenho após essas eleições é a de o crime compensa...

abstrato disse...

realmente, o 2 turno foi o "beijo da morte" pra nos...foi pessimo..mais valia mesmo ter perdido no primeiro, mas sustentar hoje uma derrota por uma diferenca apertadissima...as coisas hoje estariam bem diferentes...mesmo conseguindo 40 milhoes de votos, o efeito pratico nao tem sua carga maxima.

JF disse...

NG

Vale lembrar também que no momento crucial da campanha, já na reta final, quando a opção mais óbvia era MOBILIZAR sudeste, sul e centro-oeste, para onde mandaram o Geraldo? Manaus... enquanto Lulla falava para as massas e mobilizava sua militância, o 45 estava tentando a virada em... Manaus. Pode?