sexta-feira, 31 de março de 2006

Mentira grega

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Eros and Psyche, Antonio Canova,1793, Louvre.

Fazia meses que ela estava de olho nele.

Cantarolou Every breath you take dias a fio, enquanto acompanhava o seu inquieto revoar.

Quando, finalmente, tomou coragem, soprou-lhe ao ouvido: "Isto é um assalto: o coração ou a vida!"

Sim, foi Psique que raptou Eros.

O resto é mitologia.

Ps.: Hoje é dia de aposta.

quinta-feira, 30 de março de 2006

Querer não é poder.

No final da tarde de ontem surgiram rumores de que Roseana Sarney estaria cotada para ocupar o lugar de vice na chapa de Geraldo Alckmin à presidência da República.

Logo apareceu o senador Jorge Bornhausen (SC), para avisar a Ricardo Noblat que Roseana não é candidata à presidência, mas ao governo do Maranhão. O que ela e o PFL querem é o apoio do PSDB.

Pois o presidente do Diretório Estadual do PSDB do Maranhão, Deputado Federal Sebastião Madeira - também presidente nacional do Instituto Teotônio Vilela, órgão de formação política do PSDB - avisa que é impossível ao PSDB do Maranhão aliar-se à Roseana Sarney.

Falando do Rio de Janeiro, onde está cumprindo agenda partidária, o Deputado comentou por telefone:

"Nunca cogitamos tal hipótese, até porque, desde a sua fundação, o partido faz oposição ao grupo controlado pela família Sarney. Destaque-se que pela primeira vez na história recente do Estado, todos os partidos de oposição ao grupo sarneyzista estão unidos e coesos, consumando a Frente de Libertação do Maranhão há mais de um ano. O PFL e o PSDB do Estado vivem uma realidade totalmente diferente do quadro nacional. O PSDB do Maranhão entende que a miséria, a desigualdade, o atraso por que passa sua população, deve-se tão somente a esse método excludente de se fazer política adotado pelo consórcio liderado por José Sarney há mais de 40 anos. O compromisso do PSDB é com a ética, o zelo com a coisa pública, com os princípios da democracia. Acreditamos que estes são os pilares capazes de sustentar o acesso igualitário à justiça social, desenvolvimento e crescimento econômico, princípios ausentes por muito tempo no estado do Maranhão tanto quanto na caótica, corrompida e incompetente administração pública que o atual governo federal submete a todos nós, brasileiros."

Ou seja: querer é livre. Levar é mais complicado.

As vísceras do stalinismo

Nós já sabíamos.

Adivinhávamos desde o início.

Tivemos certeza à época daquele histórico "foda-se a Constituição". Vimos nossas certezas chegarem às raias da evidência com a tentativa de implantar o Conselho de Jornalismo - e a reação do presidente à resistência apresentada pela sociedade.

Agora as vísceras estão definitivamente expostas.

Em matéria para a Folha de São Paulo de hoje, Marta Salomon informa que a quebra do Sigilo bancário de Francenildo foi discutida previamente entre Mattoso e Palocci. A jornalista teve acesso a detalhes sigilosos do depoimento de Jorge Mattoso à Polícia Federal.

Não há mais como negar: os anseios stalinistas do governo petista estão escancarados em praça pública.

Daqui até outubro é um longo caminho. Tempo de sobra para este governo sangrar até as tripas.

quarta-feira, 29 de março de 2006

Veremos...

Em alguns minutos, deve começar a leitura do relatório final da CPI dos Correios.

Parece que Serraglio sofreu pressão de todos os lados nas últimas 48 horas. Ontem o senador Pedro Simon chegou a declarar que o relator sofrera ameaças por telefone.

Já os governistas, obviamente, querem garantir um relatório suave para o presidente Lula. Se assim não for, ameaçam esvaziar a votação do mesmo, que está prevista para a semana que vem. Como sempre, neste caso e em tantos outros, a pizzaiola de plantão é a senadora Ideli Salvatti.

Por ora, contudo, importa é o quê Serraglio tem a dizer.

Então veremos do quê ele é feito.

Papo em on

Ao que parece, o Jornalista Luiz Cláudio Cunha abandonou de vez a idéia do em off.

Em carta aberta à direção da revista IstoÉ, ele revela poucas e boas que estariam acontecendo naquela publicação.

Se é verdade tudo o que diz o Cunha, logo-logo a revista será concorrente da Caras - e não da Veja.

De todas as barbáries apontadas pelo jornalista, a mais preocupante é a que sugere que as matérias sobre a quebra de sigilo de Francenildo sofreram censura.

Minha pseudônima solidariedade, pois, ao Cunha.

terça-feira, 28 de março de 2006

Totalitarismo

Datação

1931

Acepções■ substantivo masculino

Rubrica: política.

1 sistema de governo totalitário

1.1 conceito político do homem como servo do Estado

Etimologia

totalitário + -ismo

Observações

Estratégia política não compatível com sistemas democráticos. O uso indevido pode ocasionar morte política.

segunda-feira, 27 de março de 2006

Mainardi mente e eu sou uma anta.

Ou: de como fui salva por uma goiabada.

Só não atearei fogo às vestes por que não faz o meu feitio - e porque, vamos combinar, um Prada não merece isso.

Diogo Mainardi mentiu e eu embarquei.

No que diz respeito à Folha, na semana passada, o nome de Marcelo Netto apareceu em duas matérias como um dos suspeitos de terem passado as informações da CEF para a revista Época. Os assinantes da Folha podem conferir nos links abaixo:

Matéria de Marta Salomon e Adriano Ceolin no dia 22 de março de 2006.

Coluna da Mônica Bergamo em 23 de março de 2006

Agradeço ao Ruy que, de passagem por aqui, tratou de me dar uma bela goiabada na orelha (vejam nos comments do post abaixo).

Nem a imprensa.

Não sou fã de Diogo Mainardi. Gosto de algumas coisas que ele escreve e dou boas risadas lendo sua coluna. Mas aquele jeito de pivete de rua, gratuitamente malcriado, sempre chamando a tudo e a todos para a briga, é a irritante invenção de uma persona. Só isso. Nada mais do que isso.

O pivete, porém, tem o dom de, vez por outra, trazer à tona questões incômodas, que muitos prefeririam jogar para baixo do tapete. Foi o que ele fez neste final de semana.

Muito bem...Podem me chamar de inocente. Porque, enquanto tudo parecia ruir, enquanto ética e qualquer resquício dela saíam pelo esgoto, eu ainda acreditava que tínhamos uma carta na manga. Acreditava que a Imprensa - esta mesmo, que se escreve com "i" maiúsculo por não aceitar coleiras partidárias - cumpriria seu papel.

Tudo apontava para isto. Ou, pelo menos, parecia apontar já que, nos últimos dez meses, a imprensa foi pródiga em investigar, até a medula, todo e qualquer indício de corrupção.

Ocorre que não é bem assim. Não, não é.


Basta ler a última coluna de Diogo Mainardi para a Veja, que nos descobrimos diante de uma imprensa disposta a investigar tudo, sim - desde que este "tudo" não fira seus princípios corporativistas.

Diz Mainardi que, desde a semana passada, toda a imprensa sabia que os extratos bancários de Francenildo foram entregues para a Revista Época pelas mão de Marcelo Netto - assessor de imprensa de Palocci e pai de um jornalista que trabalha naquela revista.

Se isto for verdade, concluiremos que a imprensa passou uma semana inteira esperando pela Polícia Federal quando poderia ter agido como sempre agiu: poderia ter investigado por conta própria, a partir da ponta do novelo que, desta vez, era personificada por um colega de profissão. E, se preferiu não fazê-lo é porque optou, neste episódio do caseiro, por agir de forma tão condenável quanto o atual governo: trabalhando, em primeiríssimo lugar, apenas preservar os seus pares.

Se isto for verdade, significa que não nos restou nem a imprensa. Significa, em última análise, que podemos contar apenas com Diogo Mainardi. O que implica admitir: estamos fritos.

sábado, 25 de março de 2006

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O sábado amanheceu prometendo: sol, brisa fresca e um jardim repleto de predadores a serem caçados. Então eu olhei para o meu sofá de veludo vermelho e pensei: "Este jardim já tem 500 anos. Pode esperar até segunda-feira". Juro, porém, que usei a caixinha corretamente... e já me banhei.

sexta-feira, 24 de março de 2006

Quando anoitece.

Do Painel da Folha de São Paulo, hoje:

"Toda semana tem jantar na casa de Valdemar Costa Neto (PL-SP), que renunciou para não ser cassado e continua em alta no governo Lula. Ali, expoentes do mensalão combinam esforços para livrar a cara dos que tiveram a infelicidade de ver seus processos chegar ao plenário."

Estou certa de que Brasília já viu noites memoráveis, repletas de classe, requinte e amor a este país. Hoje em dia, porém, ao que tudo indica, as noites são dedicadas apenas a festins pantagruélicos, onde se trama a morte da vergonha na cara.

Deveria ser proibido anoitecer em Brasília.

quinta-feira, 23 de março de 2006

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Ahhh, bom.

Leio na Folha de São Paulo que o técnico do TCU que deveria analisar os comprovantes das despesas presidenciais efetuadas com dinheiro sacado dos cartões corporativos da Casa Civil, foi proibido de ter acesso aos documentos.


O técnico começara a trabalhar após a aprovação de um requerimento apresentado pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR), à Mesa do Senado. O objetivo era averiguar as suspeitas de uso indevido dos cartões e a idoneidade das notas fiscais apresentadas como comprovante dos gastos.

Durante vinte dias, o trabalho transcorreu normalmente. Contudo, quando chegou a hora de verificar os gastos do presidente, a Casa Civil resolveu interrompeu o processo. Alega que os dados podem tornar públicos detalhes do esquema de segurança montado em torno do presidente, seus familiares e os chefes de Estado que visitam o país.

Ahh, bom..Agora está explicado.

Ps.: Tive problemas para publicar este post hoje cedo. Enquanto não conseguia resolver, surgiram duas notícias novas: mais cedo, o COAF pediu abertura de inquérito para saber se o caseiro Francenildo andou lavando dinheiro. Há pouco, a Polícia Federal pediu a quebra de sigilo telefônico do rapaz. Tirem suas conclusões. E, se puderem, façam as malas.

quarta-feira, 22 de março de 2006

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No dia mundial da água, abundam os discursos sobre como utilizar de forma responsável este precioso recurso natural.

Isto é coisa de país desenvolvido.

Aqui na republiqueta ainda não podemos nos dar a estes luxos.

Por aqui, precisamos esbanjar água - e muita - para ver se conseguimos limpar o quadro político nacional.

Fica, então, a sugestão de um ato simbólico para o dia de hoje: uma faxina colossal no Congresso e no Palácio do Planalto.

terça-feira, 21 de março de 2006

Republiqueta

Que negócio é esse de ficar depondo contra ministro? Parem o depoimento agora mesmo!

De onde saiu este sujeitinho?

Quebrem o sigilo dele! Que ordem judicial, que nada...Quebrem e ponto final!

Ahhh...tem dinheiro na conta? Está se vendendo! Pobre, para ter dinheiro em banco, coisa boa não fez.

O quê? Estão reclamando do quê? Direitos civis?

Desde quando pobre tem direitos civis?

Mas quem vocês pensam que são?


domingo, 19 de março de 2006

Não é nada....mas pode ser.

Estão se encerrando as prévias do PMDB. Na verdade, por decisão da Justiça, não são prévias: viraram uma consulta informal.

Que seja.

Com 98% dos votos apurados, Garotinho venceu. Não teve maioria dos votos. Mas o sistema de "média ponderada" lhe garantiu a vitória.

Que seja.

Também é verdade que ninguém tem certeza se o PMDB vai sair ou não com candidato próprio.

Que seja.

O fato é que, por ora, o candidato do PMDB é Garotinho. E a notícia é boa para Geraldo Alckmin. Germano Rigotto, com certeza, tiraria mais votos de Geraldo. Os votos de Garotinho tendem a vir das camadas sociais menos favorecidas e das hostes evangélicas - setores onde o PT costuma fazer boa votação.

Ruim para o PT, Garotinho será um candidato sob medida para os tucanos.

Que seja.

sexta-feira, 17 de março de 2006

A frase do mês

"Sim, era o chefe."

(O caseiro Francenildo Santos Costa,ontem,em depoimento à CPI dos Bingos, ao ver uma fotografia de Antônio Palocci projetada em um telão.)

quinta-feira, 16 de março de 2006

Falatório

Lula fala uma coisa hoje, outra amanhã. Delúbio só falava pra dizer que não lembrava. Duda só falou o que podia - e agora não pode mais falar. Nilton Monteiro só fala - e não assina embaixo. Palocci nunca quis falar - e só falou o que queria.

Pois agora quem vai falar é o caseiro. E parece que ele não sofre de língua presa.




quarta-feira, 15 de março de 2006

Estréia

Neste momento, Duda Mendonça presta um "não-depoimento" à CPI dos Correios. Ocasião propícia para a estréia do chargista Zérramos neste blog. Bem-vindo, Zé. Sinta-se em casa.

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É Geraldo

Sempre concordei com a visão de que o PSDB tinha um ótimo problema: decidir-se por dois excelentes candidatos.

Uma vez decidido, resta arregaçar as mangas para compensar os possíveis danos causados pelo período de indefinição. Não creio que eles sejam muitos - e tenho certeza de que serão rapidamente contornados. No final das contas, contará o fato de que o PSDB quer voltar ao governo federal. E se é Geraldo Alckmin o candidato do partido, é para ele que o partido irá trabalhar.


terça-feira, 14 de março de 2006

Silêncio e preces.

Silêncio, enquanto a cúpula tucana dá tratos ao suspense.

Preces, enquanto o meu micro não volta da assistência técnica.

Mas, principalmente, silêncio antes de concluir, apressadamente, que torço por Geraldo ou José.


Quem vem aqui com alguma freqüência, sabe que torço pelo partido. Antes de mais nada - e nesta eleição, especificamente -,torço contra Lula.


No sábado, eu apenas lhes contei o que um tucano soprou ao meu ouvido. Ocorre que, desde então, tudo parece ter virado incertezas - e não foi só no meu HD.

Creio que a decisão do PSDB sairá em algumas horas. Já o meu micro eu não sei quando volta. Portanto, silêncio e preces para a cúpula. E para o Juninho, meu técnico em informática.

sábado, 11 de março de 2006

Geraldo e José

Hoje aquele tucaninho voltou à minha janela. Está gostando aqui de casa, sabe-se lá porquê. Deve ser por conta da torta de chocolate que sempre esqueço na bancada do micro.

Importa é que, se o que eu tenho ouvido por aqui se confirmar, Geraldo será o candidato do PSDB para as próximas eleições. E engana-se quem pensa que José e seus simpatizantes sairão abalados com esta decisão. Ele sempre esteve convicto de sua responsabilidade à frente da prefeitura de São Paulo. E todos estão conscientes de que o inimigo está lá fora - não nas fileiras do partido.

Passado, pois, este momento de indecisão - que, diga-se, angustiou muito mais à imprensa e aos outros partidos do que aos diretamente envolvidos na coisa - , a ordem é arregaçar as mangas.

Não poderia ser diferente. Há uma verdade, clara, límpida e simples que, no frisson causado pela escolha de um nome, acabou sendo esquecida até mesmo pelo Palácio do Planalto: hoje não há "serrista" que queira ver Lula reeleito.


É claro que estas coisas sempre podem mudar na última hora. Mas não acredito que mudem. Confio no meu tucano. E na minha torta de chocolate. É de Geraldo que vamos.

sexta-feira, 10 de março de 2006

Agito no ninho

Quem não vê a hora de saber qual será o escolhido do PSDB terá que esperar um pouco mais. Pelos meus cálculos, a decisão só será divulgada na próxima semana.

Ocorre que um tucano acaba de pousar na minha janela. Charlou muito, bateu asas e eriçou as penas na tentativa de se fazer entender.

Acho que ele disse "Alckmin".

quarta-feira, 8 de março de 2006

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Não esqueça o poeta.

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Sou frágil e imbatível. Sou sagrada e profana. Sou carinho e fúria. Sou mulher e menina.

Espinhos não me farão recuar. Apesar deles e, talvez, por causa deles, insisto em trazer ao mundo a minha beleza.

Mas lembre sempre do poeta: lágrima não cicatriza.

Pressa

Faz semanas que a imprensa dá claras demonstrações de que não está suportando o suspense em torno da escolha do candidato tucano.

Depois de evidenciar todo e qualquer sinal de acirramento dos ânimos entre Alckimin e Serra, ela agora começa a opinar, abertamente, a respeito do impasse. O editorial de hoje do jornal O Estado de São Paulo, apóia uma candidatura de Serra ao governo daquele Estado e a definição pelo nome de Alckmin no pleito nacional.

Apesar de discordar da idéia, penso que tudo fica mais claro quando grandes órgãos de imprensa assumem seu posicionamento político. Lamento, apenas, que tal atitude seja proibida, pela lei eleitoral, durante as campanhas.


segunda-feira, 6 de março de 2006

Deliciosamente terrível.

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Minha família é uma família de mulheres fortes.

Quase todas viuvaram muito cedo e jamais voltaram a casar - assumindo, assim, a responsabilidade de criar os filhos e tocar os negócios dos falecidos maridos. Quando havia negócios. Não raro, muitas delas tiveram que fazer de seus antigos passatempos, um modo de vida.

Mas de todas as mulheres da família, há uma por quem sempre tive predileção. Uma, cujas histórias eu captei aqui e alí, através de uma pesquisa somente possível porque, até meus quinze anos, a família morava toda na mesma rua.

Chamava-se tia Nena.

Não, tia Nena não era a tia-avó mais querida - estava longe disso. Pouca atenção nos dispensava quando, inadvertidamente, a criançada ousava invadir sua cozinha. Além disso, era tida, por noras, sobrinhos e cunhados como alguém de "gênio terrível".

E é exatamente aí que reside a minha secreta admiração por ela. "Gênio terrível" foi uma expressão que eu conheci bem cedo. Não se passava um único evento de família sem que alguém advertisse meus pais: "Esta vai incomodar; tem um gênio terrível".

Enfim.... Importa é que, tão logo comecei a ouvir aquele vaticínio, fiquei interessada em tia Nena e passei a fazer perguntas. E, aos poucos, conforme eu ía recebendo respostas distraídas, fui descobrindo uma personagem deliciosa, muito à frente de seu tempo.

Sem papas na língua, tia Nena provocara verdadeiras avalanches familiares por falar o que pensava. Mais de uma vez, ela foi obrigada a dormir na varanda de casa porque se atrevera a chegar mais tarde de um baile. A altura de suas saias ou a profundidade de seus decotes costumavam render-lhe algumas semanas de castigo - os quais ela burlava, saltando a janela do quarto. Lia livros probidos para moças. Nunca me disseram quais, mas sei que um deles rendeu-lhe uma surra.

Não bastasse isto, tia Nena escandalizou a cidade ao terminar dois noivados em três anos simplesmente porque deixara de amar os respectivos pretendentes. Casou-se tarde para os padrões da época mas, acredito eu, deve tê-lo feito por amor - eu não esperaria menos dela.


Para completar, ela era bonita - sim, aquelas bochechas redondas faziam sucesso no final da década de 1920. E, segundo me disse um parente cuja identidade prefiro manter secreta "era linda e sabia disso" - como se a consciência da própria beleza tivesse autorizado, por si só, as rebeldias do espírito.

Embora tenha viuvado tarde, tia Nena dirigia com mão de ferro o seu pequeno núcleo familiar. Isto, e o hábito de falar o que que lhe vinha à cabeça, fizeram com que a fama de "gênio ruim" a acompanhasse até o final da vida.

Hoje, quando abrimos a Semana Internacional da Mulher faço uma homenagem a todas as mulheres corajosas - da minha e de todas as famílias - , que jamais se deixaram dobrar frente a desafios, censuras e opressões.

Embora muita coisa tenha mudado para muitas mulheres, há muito, ainda, a ser conquistado. No Brasil, a violência física e psicológica, os salários menores, a baixa participação na esfera política e a injusta realidade de uma dupla jornada de trabalho ainda são obstáculos a serem vencidos.

Às mulheres que por aqui passaram antes de mim, deixo o meu beijo e a minha gratidão. Às que ainda virão, deixo um conselho: inspirem-se em tia Nena. Sejam deliciosamente terríveis.

sábado, 4 de março de 2006

É só o que se ouve por aí.

Eu sei muito bem o que vocês pensaram quando leram o post anterior. A cada discurso, a cada inauguração, a cada aparição da TV, a conclusão é sempre a mesma:

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Lula no lixo.

Ontem, em Guaruva, no litoral norte de Santa Catarina, a fiscalização apreendeu mais de uma tonelada de lula. A carga - que não tinha origem comprovada nem certificado da secretaria de saúde - foi desprezada em um aterro sanitário.

quinta-feira, 2 de março de 2006

Exilados

Ameaçada de morte, a família de Celso Daniel está fugindo para o exterior.


São os novos exilados que o Brasil começa a produzir. Aqueles que, ao denunciarem as nuances políticas de um assassinato, acabam por se tornar o alvo preferencial dos criminosos. Tivessem concordado com o discurso oficial de "crime comum", estariam tranqüilos.

É impressão minha ou estamos retornando, a passos rápidos, ao pior capítulo da nossa história?

Fiquei pensando.

E se no ano que vem o petróleo texano patrocinasse uma escola de samba?


Seria uma grande virada no carnaval carioca. Cenógrafos da Disney, coreógrafos da Broadway e grana..muita grana. Tudo para garantir que a águia brilhasse, majestosa, em azul, vermelho e branco, na Sapucaí.

Penso que a Portela seria uma ótima candidata a empreender esta inovação.

Haveria lamentos e ranger de dentes, é claro. Mas todos os argumentos contrários a uma idéia deste tipo morreram na segunda-feira. E foram enterrados ontem.

quarta-feira, 1 de março de 2006

Quarta-feira de Cinzas

Depois da festa, vem a ressaca.

Delcídio Amaral, senador do PT de Mato Grosso do Sul e presidente da CPI dos Correios, está na imprensa dizendo que o mensalão existiu. "Há muita coincidência entre as datas dos saques e votações", diz ele.

Quando um senador petista diz isso, cabe perguntar: se houve mensalão, podemos afirmar que o governo usou de recursos públicos para corromper a Câmara dos Deputados? E mais: o que se faz com um governo que usa de dinheiro público para corromper o sistema político federal?

Com a palavra, a oposição.