Até agora, os problemas da candidatura Alckmin foram apontados por três segmentos da sociedade: a imprensa - que, como quer a lei brasileira, não se posiciona com clareza -, os governistas - que fazem questão de confundir dificuldades eleitorais com incompetência administrativa - e os serristas inconformados. Estes últimos utilizam as dificuldades que a candidatura Alckmin vem enfrentando para justificar que estavam certos em defender o nome de José Serra para o Palácio do Planalto. E parecem dispostos a suportar mais quatro anos de um governo federal petista apenas porque isto lhes dará razão.
Já os que apóiam Alckmin têm incorrido em outro pecado: fazem de conta que nada está errado, que as pesquisas não retratam a realidade, que ainda é cedo e que teremos, na última hora, uma "grande arrancada".
Não gosto do que vou escrever agora. Ocorre que alguém precisa fazê-lo. De preferência, alguém que esteja torcendo para que, em janeiro de 2007, Geraldo Alckmin suba aquela rampa em Brasília.
Pois que seja eu a dizer: até o dia de ontem, a condução da candidatura Alckmin esteve uma grande, uma estrondosa, uma escandalosa porcaria.
Do diz-que-me-diz - e a demora do PSDB em definir seu candidato - passando pelas dificuldades na composição com PFL, pelo silêncio na semana em que o PCC atacou São Paulo, pelo erro estratégico de levar Alckmin a visitar o nordeste antes que a televisão o tivesse tornado suficientemente conhecido, o festival horrores culminou com a convenção do último sábado.
Desde que eu acompanho política, não lembro de ter visto uma convenção tão desastrada. Erraram em tudo: na escolha do lugar, no tamanho do discurso do candidato e, sobretudo, em arrastar gente para lá com a promessa de lanches e trabalho. Mas o que é que imaginavam? Que a imprensa não conversaria com a "militância" alí reunida? O resultado do desastre está estampado em todos os jornais: conseguiram realizar uma convenção que, exceto pelo que foi veiculado no site do próprio PSDB, só gerou críticas e notícias negativas. Uma convenção modesta e discreta teria sido menos prejudicial.
Por mais que eu deteste admitir isso, as pesquisas dos últimos meses não estão erradas. Elas são reflexo direto do péssimo trabalho que vem sendo feito em torno de um excelente candidato. Vou repetir, aqui, com todas as letras, o que já tentei dizer sutilmente em outra ocasião: Alckmin é o presidenciável com melhores condições para ocupar a presidência do país. O problema é que os incompetentes que o cercam estão fazendo dele um péssimo candidato.
Estas são coisas a respeito das quais é preciso falar sem medo. E é preciso falar delas sem a suposta aura de imparcialidade que cobre a imprensa, sem as distorções eleitoreiras promovidas pelos governistas e, principalmente, sem a pequenez dos serristas inconformados. São coisas a respeito das quais é preciso falar agora, quando o quadro ainda é passível de mudança.
Para finalizar, devo admitir que tomei um fôlego, ontem à noite, quando vi os comerciais de televisão: calcanhar de Aquiles do governo Lula, a realização de obras é um grande trunfo para Geraldo Alckmin. Gostei também da forma como o candidato foi apresentado: simplicidade, honestidade e competência.
Depois de tantas trapalhadas, finalmente conseguiram acertar em alguma coisa. Espero que, daqui para frente, sejam só acertos. Se assim não for, podem estar certos de que eu continuarei falando.
Não pretendo, com isto, conquistar simpatias. Ao contrário: bem sei que acabo de assumir uma posição muito antipática. Mas não estou nem um pouco preocupada com isso. Preocupa-me o futuro do país. É por isso que eu falo. E falo antes que seja tarde.