segunda-feira, 30 de abril de 2007

Level Two

Ontem, em editorial intitulado "Reino animal", a Folha de S. Paulo refletiu a respeito do adesismo que tem caracterizado a oposição nos últimos meses. No início da semana, o Estadão havia publicado editorial semelhante: das trocas de carinho entre Antônio Carlos Magalhães e Lula, passando pela mutação de Mangabeira Unger em ministro, pelo beija-mão protagonizado por Tasso Jereissati e pela descarada corte que Aécio e Serra fazem a Lula, todos os passos são reveladores de uma oposição moribunda, em nada merecedora dos votos que recebeu na última eleição.

Há reações, é claro. De Fernando Henrique, que nenhum cargo eletivo ou partidário ocupa. De Jorge Bornhausen, que também não ocupa mais qualquer cargo formal. São manifestações que soam teatrais diante da franca capitulação de uma maioria que possui mandatos. É como se ambos tivessem sido encarregados de amenizar as coisas, com discursos e entrevistas, para aqueles 40 milhões de eleitores. Se estão conscientes de que tal papel lhes foi atribuído, não sei. Mas sei que são políticos experientes demais para se pensar que não.

No frigir dos ovos, o que se tem é um quadro de inspiração petista: enquanto achincalha a elite, Lula é o presidente preferido dos banqueiros. Enquanto Bornhausen e Fernando Henrique fazem duras críticas ao governo, os luminares de seus respectivos partidos negociam, dialogam e aderem.

Clara como a água do mais puro córrego, ou fétida como aquela do mais podre esgoto, a situação se impõe mesmo para os que gostariam de ignorá-la: já faz alguns meses que Lula, o PT e os demais partidos da base governista são um problema secundário. É óbvio que, uma vez reeleitos, eles estejam tratando de colocar em prática seus planos - pouco importando que boa parcela do eleitorado seja contrária a eles. É da democracia que assim seja. O que não é da democracia é que tais planos não encontrem resistência. O que não é da democracia é a ausência de uma oposição - ou a existência de uma oposição meramente cênica, só existente diante dos holofotes da imprensa, que não hesita em amasiar-se com o Executivo em plena luz do sol.

É com pouca munição, pois, que chegamos ao Level Two do jogo democrático. Temos quatro longos anos para chegar com vida ao Level Three. E, embora o objetivo maior seja o mesmo, há novas armas e novos inimigos. Há, antes de mais nada, um exército mercenário do qual precisamos nos livrar. Bem sei que será difícil sem eles. Com eles, porém, será impossível. Por eles, o jogo acaba aqui.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Antes da CPI

Na semana que vem, a Controladoria Geral da União inicia uma devassa em 14 ONGS catarinenses que receberam dinheiro do governo federal nos últimos anos. A meta é averiguar suspeitas de irregularidades, como desvio de recursos ou sonegação de impostos.

Embora a CGU não tenha informado os nomes das ONGs que se tornaram alvo das investigações, já adiantou que algumas destas entidades são ligadas a políticos - cujos nomes também estão sendo matidos em segredo.

Hoje, porém, em sua coluna para o Diário Catarinense, Cacau Menezes publicou notinha interessante:

"NA MOSCA - Cacau antecipou em quase um mês a notícia veiculada ontem pelos jornais, de que haveria uma devassa em ONGs de Santa Catarina. A operação da Controladoria-Geral da União vai pegar 14 de uma vez, mas entre elas está uma, ligada ao PT, que vai dar muito pano para manga. Tem político da estrela vermelha de molho por aí."

O "Supla-sumo" do deboche

Ontem, Eduardo Suplicy transformou a Comissão de Constituição e Justiça em palco para sua incurável tendência ao ridículo, declamando um rap dos Racionais MC’s. Não foi a primeira vez que o senador arrancou risos constrangidos de seus pares. Tal faculdade - a de se auto-ridicularizar - já é quase uma marca registrada do senador.

Nesta madrugada, ao comentar a situação, Reinaldo Azevedo observou que a grande maioria das pessoas tende a ver Suplicy como alguém levemente desprovido de freios sociais - ou, pelo menos, daquela parcela de freio social associada ao amor próprio. Para Reinaldo, porém, "Suplicy inventou uma personagem — o simplório chique — e gosta de vivê-la. É cálculo, não demência.".

Concordo. Tanto concordo que, em 2005, escrevi sobre isso, observando que Suplicy fazia uso desta personagem para tumultuar e esvaziar as CPIs de forma metódica. E estou, até hoje, aguardando por um parlamentar que seja tão cara de pau quanto ele para interrompê-lo.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

E o placar?

Marcos Valério foi poupado.

Genoíno é deputado.

Eduardo Azeredo foi poupado.

João Paulo Cunha é deputado.

Delúbio Soares foi poupado.

José Mentor é deputado.

Roberto Brant foi poupado.

Paulo Rocha é deputado.

Silvio Pereira foi poupado.

Sandro Mabel é deputado.

Luiz Gushiken foi poupado.

Valdemar da Costa Neto é deputado.

José Dirceu foi poupado.

Antônio Palocci é deputado.

Duda Mendonça foi poupado.

Lula é presidente.

Arlindo Chináglia é presidente da Câmara.

Renan Calheiros é presidente do Senado.

A denúncia do Procurador Geral da República foi para o lixo.

O relatório da CPI dos Correios foi para o lixo.

Não há crime, nem dono, para aquele 1,7 milhão de reais encontrado com os petistas durante a campanha presidencial.

ACM foi a Lula.

Aécio foi a Lula.

Serra foi a Lula.

Tasso foi a Lula.

Zulaiê fala

Dois leitores, Renato Lellis e Marcos Ramos, recomendaram a entrevista que a ex-deputada Zulaiê Cobra concedeu ontem à radio Bandeirantes. A entrevista é mesmo boa. Clique aqui para ouvir.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Não disse?

Conforme tentei lhes explicar outro dia, a nossa civilização tem encontrado saídas para os problemas que ela mesmo cria.

Pois eis Gliese 581 C, o nosso legado às futuras gerações: amplos espaços, temperaturas paradisíacas e vista panorâmica para Mercúrio no aguardo de novos e poluentes habitantes.

Transporte e outros detalhes serão resolvidos em breve. Por ora, importa é deixar claro que, ao contrário do que vivem a pregar os catastrofistas, nós somos uma espécie porreta.

Sem papas no bico...Agora sem bico

"Por que o Geraldo perdeu milhões de votos no segundo turno? Ninguém explica. A má vontade do PSDB no segundo turno foi evidente. Por que o material de campanha não chegava? São questões internas do partido.

A gente vê essas situações entre Geraldo e Serra. Parece que o Serra nunca gostou que o Geraldo tenha sido candidato. Não sei se ele ganharia, mas era a vez dele. Houve esse desgaste. Essas questões nos levam a uma situação difícil."

Da ex-deputada federal Zulaiê Cobra, ontem, anunciando seu afastamento do PSDB.

Confesso que nunca acompanhei muito de perto a carreira da ex-deputada. O que sei dela é isto que se viu ontem: sem papas na língua, jamais se furtou a dizer o que pensa. Nos últmos anos, em várias ocasiões, ela foi a única a dar voz aos nossos apelos da forma como nós, os verdadeiros oposicionistas, esperávamos que alguém fizesse.

Agora, ao se desfiliar, Zulaiê apresenta como justificativa exatamente aquilo que tenho batido quase que diariamente neste blog: a oposição frouxa que o PSDB tem feito, os amores de Serra, Aécio e, mais recentemente, de Tasso Jereissati para com Lula, além, é claro, de posturas passadas que permitiram a absolvição de tantos mensaleiros.

Poderia ter ficado nisso. Como é do seu perfil, porém, ela fez mais: levantou o véu da última campanha, apontando questões que o tucanato quer ver esquecidas porque que são o retrato de uma eleição que o partido, a contar pela postura da maioria dos seus integrantes, não quis realmente ganhar.

Acreditem: quando a ex-deputada pergunta "Por que o material de campanha não chegava?", ela está falando de mais do que simples logística. Está falando de boicote e dificuldades de acesso intencionalmente criadas. Quando se refere a "má vontade do PSDB no segundo turno", está se referindo a decisões concretas, como aquele ridículo intervalo de 12 dias entre o primeiro e o segundo turno, justificado, à época, porque se tratava de "uma outra campanha", mas que, no final, vimos não ser nada disso: a campanha não mudou e, o que é pior, o PT aproveitou aquele vácuo para lançar sua ofensiva contra as privatizações - também elas, bem sabemos, vítimas da má vontade tucana.

Zulaiê Cobra tem um caminho difícil pela frente. Primeiro, porque não está fácil escolher um bom partido no Brasil. Segundo, porque, salvo engano meu, será desqualificada por seus ex-colegas. No mínimo, porque eles não gostam de ouvir algumas verdades.

Desejo boa sorte a ela.

terça-feira, 24 de abril de 2007

Smith de Vasconcelos e Matarazzo Suplicy... Tremei!

"Este é o século da elite do saber, e não da elite do berço e sobrenome".

Lula, hoje cedo, no lançamento do PDE - Plano de Desenvolvimento da Educação -, avisando que a educação vai acabar com elite do berço e do sobrenome. Resta saber se esta "faxina social" vai começar dentro do PT.

Vocês sabem... Claro que sabem.

Asinhas empanadas

asinhafrita.jpg

"Aécio e Serra estão precisando ir mais ao cinema, porque esses filmes todo mundo já viu. Hoje, os dois são mais candidatos a Aldo e a Jobim do que a qualquer coisa. Lula não se satisfaz com maioria; quer unanimidade, para ganhar todas."

Eliane Cantanhêde, na Folha de S. Paulo de hoje, tentando avisar aos dois presidenciaveis tucanos que receber apoio de Lula é andar no cabo da frigideira.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Das prioridades

Na madrugada de sábado, quando deixei o cyber mundo, o assunto da vez era a liminar concedida pelo juiz Sérgio Jorge Domingos, da 22ª Vara Cível de Curitiba, impedindo a circulação da última edição da Revista IstoÉ. A solicitação partira do deputado federal paranaense, Cássio Taniguchi - um suposto "democrata", já que pertence às fileiras do DEM.

Não que a liminar tenha conseguido abafar a informação. Emitida com atraso, ela não impediu que a revista chegasse aos assinantes. A matéria que motivou a liminar - a entrevista com a empresária Silvia Pfeiffer -, por sua vez, foi publicada pelo site Consultor Jurídico.

Mas eu confesso que me espanta um pouco o silêncio geral a respeito do assunto - principalmente de alguns medalhões da blogosfera política, que preferiram se engalfinhar por Kennedy Alencar e Diogo Mainardi ao invés de protestar contra a censura prévia envolvendo a IstoÉ. Embora não seja desprezível a questiúncula entre ambos, ela é - até porque corre a céu aberto - bem menos grave do que a decisão de um juiz de Curitiba que, em pleno estado democrático de direito, quer - ou pelo menos tenta - determinar o que eu posso ou não ler no final de semana.

Logo: a sentença contra Mainardi e a Veja, antecipada por Alencar, vendeu mais porque era fresquinha ou era fresquinha porque vendeu mais? Sei lá. Não me interessa. De Mainardi a Alencar, de Azevedo a Noblat, os envolvidos e seus "defensores" são bem grandinhos e contam com excelentes advogados. Além disso, estão ligados a veículos de comunicação poderosos, através dos quais poderão dar visibilidade às suas reivindicações.

Estou mais preocupada é comigo e com você, leitor, que fomos atingidos pelo desejo de censura de um deputado. Estou me perguntando é se o DEM vai ficar quietinho diantes das denúncias contra um deputado seu. E, pior do que isso, se o DEM aprova o uso da censura para evitar que venham a tona sérias denúncias contra o governo Lula, só para que um membro de suas fileiras seja preservado. Se assim for, voltamos àquele pesadelo de meados de 2005, quando muitos mensaleiros foram salvos para que Brant e Azeredo fossem preservados. Com um agravante: parece que agora eles estão dispostos a negociar até a democracia.

Como vocês podem ver, não preciso de um jornalista para chamar de meu. Preciso, e urgente, é de uma oposição que eu não tenha vergonha de chamar de minha.

Darwin e o avião

Estive no Rio Grande do Sul neste final de semana.

Na ida, o vôo atrasou uma hora e quarenta. Na volta, uma hora e meia.

E a Banânia suspira aliviada: "os aeroportos estão funcionando normalmente".

Darwin diria que esta capacidade de adaptação da espécie - no caso, os banânios - é prova de superioridade. Suponho, pois, que as futuras gerações nascerão com traseiro avantajado, perfeitamente adaptável às exigências da nossa aviação civil.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Plantão N.G.

Mangabeira mostra o Unger.

Por que o tucano subiu a rampa?

É o assunto político do momento. Todo mundo quer saber porque Tasso Jereissati aceitou o convite de Lula.


Está claro que governo e oposição até devem conversar. Quando e sobre o quê é que são elas. Eu, em especial, me pergunto sobre o momento deste encontro de ontem.

O governo acabara de levar um baile em sua tentativa de barrar a CPI do Apagão Aéreo. Não era, penso, a melhor hora para mostrar candura em relação a Lula. Era ocasião de aproveitar este raro lampejo de força de uma oposição que vem sendo sistematicamente soterrada pela maioria do governo na Câmara Federal - a ponto de, na semana passada, eminentes membros do PSDB terem dado mostras públicas de capitulação .

Calculem comigo: a semana abriu com os tucanos em questão vindo a público para explicar e/ou desmentir as desastradas declarações. Depois, na quarta-feira, com a probabilidade de uma decisão jurídica favorável a realização da CPI do Apagão na Câmara - e a manutenção do pedido de abertura de outra similar no Senado - a oposição conseguiu mostrar que ainda respira. A semana, que começara mal, poderia ter encerrado com saldo positivo para o lado de cá que, enfim, mostrara algum vigor. Mas lá se foi o presidente do maior partido de oposição matraquear com o representante máximo da situação.

Talvez por falta de assunto melhor, mas certamente pelo estapafúrdio da estratégia, a imprensa em peso especula sobre as verdadeiras razões deste encontro. Impossível não lembrar daquela corrente antiga - uma das primeiras a circular na internet -que inquiria "Por que a Galinha atravessou a rua?", tentando responder à questão a partir das mais variadas correntes filosóficas e ideológicas.

Como amanhã é sábado - dia de ficarmos inquietos com a falta de notícias políticas - eu proponho* uma nova versão para este clássico: " Por que o tucano subiu a rampa?"

* Vocês já sabem, mas não custa lembrar: sejam educados se quiserem ver suas hipóteses publicadas.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Nota de utilidade pública

Para comentar neste blog - e, em especial, no post abaixo - é preciso dominar alguns rudimentos conceituais.

Saber, por exemplo, a diferença entre grupos terroristas como o Hezbollah, a Al Qaeda, etc e o islamismo - ou, se quiserem, entre o protestantismo e a Ku-Klux-Klan.

Tentativas de reescrever o que afirma esta blogueira podem até ser aceitas a título de, sei lá, esquentar o debate. Mas há que se ter um mínimo de bagagem cultural para tanto.

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Da dominação cultural... Ou de como criar monstros

Queiram me desculpar os doutores e biógrafos...Hambúrguer, John Wayne e nicotina não fazem um estrago deste tamanho na cabeça de ninguém.

Tampouco os assassinos de Columbine estavam sozinhos no liqüidificador psicótico de Cho Seung-hui.

A cultura de chamar-se "mártir" e filmar depoimentos antes do "sacrifício" tem nome, sobrenome e endereço conhecidos.

Apaguei

Tem gente reclamando que estou ignorando a contenda sobre a CPI do Apagão Aéreo - se vai sair pela Câmara, pelo Senado ou pelas duas casas.

Minha preferência, é claro, é que saia pelo Senado. Só ali teríamos chances de não ver a oposição obstruir os pedidos de quebras de sigilos - base para a coleta de provas decisivas.

Mas vamos ser sinceros... Vale a pena perder tempo com o assunto?

No final das contas, o "Okamoto" da vez será preservado. E, um ano depois do relatório final, nenhuma providência concreta terá sido tomada.

Penso que é uma imensa bobagem ficar perdendo tempo e bytes com o tema - de modo que apaguei o assunto. E a ele só voltarei se for positivamente surpreendida.

A ode ao oprimido

Em artigo de hoje para a Folha de S. Paulo, intitulado "O que o mestre mandar", Ruy Castro expõe seu desconhecimento a respeito das nuances implicadas na emissão e recepção de mensagens.

Na tentativa de explicar o massacre ocorrido na Virginia, Castro produz uma argumentação adolescente sobre a influência da cultura americana no cotidiano de Banânia. "Durante quase um século, eles nos ensinaram que fumar era bacana, adulto e moderno", inicia. Em seguida, explica: "Mas, então, eles descobriram que fumar não fazia bem, e a ordem foi banir o cigarro". No segundo parágrafo, ele conta como "eles" nos ensinaram a consumir fast food. No terceiro, explica que "eles" descobriram que aquela era uma comida perigosa e passaram a nos ensinar a evitá-la. Não demora a desferir aquele que deve ter lhe parecido, no momento da redação, o golpe dramático a encerrar sua cantilena:

"Por fim, e por igual período, eles nos ensinaram a admirar os pistoleiros Jesse James, Billy the Kid e Wyatt Earp. Ficamos íntimos da Magnum 44, do Colt 45, da Winchester 73 e de outras ferramentas da civilização americana. Tanto que nos dedicamos furiosamente a usá-las uns contra os outros, entre nós mesmos.(...) Às vezes, como anteontem, eles descobrem que ferramentas análogas, nas mãos de um animal doente e agressivo, como o ser humano, costumam ser mortíferas. Alguns até já cogitam proibi-las. Pode ser que, lá, nos EUA, eles consigam."

É uma ode ao oprimido: somos todos, enfim, tábula rasa, esperando apenas que os americanos nos digam como tocar nossas vidas. É o mito rousseauniano do bom selvagem: éramos um povo puro e fomos corrompidos pelos americanos. Somos, pois, um povo indefeso, imberbe, incapaz de reagir contrariamente às mensagens emitidas pelo "mestre".

Querem saber? Vou concordar com Ruy Castro. Vou, sim. E vou comprar sua teoria por inteiro: o brasileiro é desprovido de senso crítico, incapaz de apropriar-se das mensagens que recebe para determinar o que delas lhe serve ou não. Está, o oprimido brasileirinho, à mercê de tudo o que vê, lê e ouve, não tendo, igualmente, capacidade de gerar idéias e comportamentos próprios.

De posse dessa teoria - que, notem bem, aceitei sem ressalvas, como requer meu limitado intelecto tupiniquim - vou perguntar ao brasileiro Ruy Castro quem é o seu "mestre". Quero saber aos mandos de quem ele atende quando escreve um texto assim, ou seja : qual foi o lixo que Ruy Castro engoliu, sem qualquer análise crítica, para escrever tal porcaria?

terça-feira, 17 de abril de 2007

A vaca gorda do capitalismo

Nos Estados Unidos, sempre que um franco-atirador ataca, doutores das mais diversas áreas se debruçam sobre os livros para tentar entender o fenômeno. Até hoje não encontraram uma resposta.

No Brasil, porém, a maior rede de televisão do país chama a doutora em psicologia e professora da PUC-SP, Sandra Dias, para malhar o capitalismo. E o que ela diz? Dentre outras "pérolas" que: "Em uma cultura onde o consumo é impositivo, a coletividade vai se colocar como uma massa de consumidores. E como um sujeito vai se marcar diferentemente? Como ele vai marcar o lugar dele, o lugar de um sujeito? Ou seja, o lugar que não é dos consumidores? Sempre por um ato heróico. Nós podemos entender que um jovem que sai atirando na coletividade está fazendo um ato heróico, mesmo que negativo".

Imperativo dizer que, enquanto a Globo e dona Sandra se ocupavam em malhar a vaca gorda do capitalismo yankee - alvo de dez entre dez comunalhas que se aboletam nas academias tupiniquins - dezenove brasileiros morriam no Rio de Janeiro, sede da Rede Globo de Televisão, em virtude de mais um desses corriqueiros combates entre traficantes.

Quem quiser assistir a tendenciosa matéria da Globo pode clicar aqui.

(Este post foi redigido com a colaboração do leitor que se assina "O Pensador" e que postou a informação, bem como o link para a matéria, na área de comentários deste blog. )

Da imbecilidade das macro-argumentações

"A causa de massacres como este ocorrido na Virginia Tech é a cultura americana que, tendo o cinema por carro-chefe, só faz disseminar a violência. O americano é violento. Sua cultura de massa reflete e alimenta isso"

Bem... Se é por aí que vamos, então que tenhamos coragem de virar este imbecil "macroscópio" na nossa direção. O resultado seria algo do tipo: " A causa do nosso subdesenvolvimento é a cultura brasileira que, tendo por carro-chefe a televisão, só faz disseminar prostituição, crime, falência dos valores, corrupção política, policial e religiosa. O brasileiro não presta. Sua cultura de massa reflete e alimenta isso."

Tá bom assim?

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Estranho e irreversível

O ataque na Virginia Tech difere um pouco da ação usual dos franco-atiradores norte-americanos. Não só pelo número de mortos mas, em especial, porque aconteceu em duas etapas: por volta das 7:00 da manhã, ocorreu um primeiro ataque em um alojamento. Duas horas depois, quando tudo parecia resolvido, novo ataque - agora vitimando 30 pessoas.

Embora as autoridades tenham descartado evidências imediatas de um ataque terrorista, até agora não revelaram a identidade do assassino - que parece ter se suicidado ou das vítimas. É uma morosidade incomum para os americanos. Por outro lado, alunos disseram à CNN que, nas últimas semanas, o campus teria recebido várias ameaças de bomba.

Só por curiosidade, fui dar uma olhada nos programas de intercâmbio da Virginia Tech. Pesquisei, também, o calendário de atividades culturais da semana. E, estranho, descobri que esta é justamente a semana de encerramento do Mês da Consciência Judaica. Clique aqui para ver a programação. Também é bom lembrar que hoje a comunidade judaica comemora o Dia do Holocausto - memória aos judeus mortos durante a Segunda Grande Guerra.

A hipótese não pode ser de todo descartada. Ainda assim, caso se confirme um ataque terrorista, creio que as autoridades americanas terão muito cuidado antes de revelar tal coisa. Para começo de conversa, isto obrigaria o governo a uma revisão dramática dos programas de intercâmbio universitário - questão que já provoca, há algum tempo, muita gritaria entre os jovens americanos.

Quem?

“Esse grupo, mais que uma organização criminosa, é um grupo mafioso que tem audácia, que demonstra poder, que faz questão de demonstrar o poder interferindo no Legislativo, no Judiciário, no Executivo e até no resultado do carnaval do Rio de Janeiro.”

(Delegado Emanuel Henrique Oliveira, ontem, em entrevista ao Fantástico, comentando a operação Hurricane.)

Agora é o seguinte... Um delegado faz uma afirmação dessas em rede nacional e ninguém lhe pergunta a que Legislativo, Judiciário ou Executivo ele está se referindo? É o que soubemos até aqui ou há mais?

domingo, 15 de abril de 2007

Que avance a democracia

A preocupação com a educação - em especial, a educação política do eleitorado - é irmã gêmea do sufrágio universal. De Montesquieu a Tocqueville, não houve teórico da democracia moderna que pregasse uma coisa sem a outra.

Mas como o sistema democrático tende a avançar primordialmente pela inclusão cada vez mais ampla de participantes - e somente depois pela implantação dos meios de aperfeiçoamento do sistema em si - chegamos a um ponto em que tornam-se evidentes as conseqüências do direito ao voto do analfabeto, garantido a partir da Constituição de 1988: segundo dados do TSE, dos 126 milhões de eleitores aptos a votar em outubro de 2007, cerca de 24% eram analfabetos ou sabiam apenas ler e escrever. O índice sobe para 68% se forem computados os que não tinham o 1º grau completo e para 74% se considerarmos os chamados analfabetos funcionais - aqueles que não têm a menor noção do funcionamento dos mecanismos políticos.

Conclui-se, pois, que os destinos do Brasil estão sendo decididos por uma maioria de ignorantes políticos. Talvez eles o estejam fazendo mediante aquela "capacidade natural" defendida por Montesquieu. Inegável, porém, que o número de candidatos envolvidos em corrupção eleitos ou reeleitos no último pleito nos faz especular sobre a real existência desta faculdade - ou, no mínimo, da existência daquele um ambiente de informação, debate e conhecimento público, que o teórico francês defendeu como pré-requisito indispensável à democracia.

Uma vez que o sufrágio universal, com base nas novas tecnologias e nos novos meios de comunicação de massa, tenha aberto mão da alfabetização como condição para o exercício da democracia, é praticamente impossível cogitar um retrocesso. No Brasil, em especial, o desleixo governamental para com a educação pública - principalmente aquela do ensino fundamental e médio - colocou-nos numa situação tal que é igualmente inviável pensar numa mudança de quadro para os próximos trinta anos. Com muito empenho e sorte, uma política educacional séria levaria pelos menos duas décadas e meia para reflertir-se nas urnas. E bem sabemos quão longe estamos desta possibilidade.


Se não é possível uma mudança radical e rápida no quadro educacional, talvez a solução seja fazer avançar mais uma vez a democracia.

Comecemos encarando corajosamente uma primeira verdade: boa parte destes 68% de analfabetos funcionais não compareceria às urnas se não fosse obrigada a tanto. Acabar com o voto obrigatório seria, portando, uma forma rápida de resolver parte da questão: afastar das urnas todos aqueles que - a analfabetos funcionais ou não -não se interessem por política.

O risco é que a saída venha a gerar mais alienação e exclusão social. Nos Estados Unidos, determinados segmentos sociais abrem mão, de forma cada vez mais progressiva, do exercício democrático máximo. Na outra ponta, os políticos passam a privilegiar com projetos e iniciativas somente aqueles que comparecem às urnas. Não é, claro, o que queremos. Nosso desejo democrático, já dissemos, vai sempre no sentido da inclusão.

Novamente, a solução pode estar em fazer avançar mais ainda a democracia e romper, numa só tacada, com Montesquieu, Tocqueville e Thomas Jefferson: além de acabar com o voto obrigatório, deveria-se acabar também com a inelegibilidade dos analfabetos. Por um lado, mediante o convite à representação política, se estaria neutralizando a força excludente do voto facultativo. Uma vez convocados a participar efetivamente da política, agora não mais como massa passiva, os analfabetos - sejam eles totais ou funcionais - teriam um estímulo a mais para se interessarem por política. Por outro lado, estaríamos fazendo jus a uma realidade democrática posta: se essa gente pode opinar, deve poder participar ativamente do processo.

Radical, a medida exigiria alguma adaptação: caberia às assessorias dos parlamentares analfabetos, por exemplo, a leitura e a redação dos textos. Mas não se pode afirmar, só por isso, que os resultados seriam mais desastrosos do que já o são atualmente - tome-se como exemplo votação recente, na qual os acusados de crime hediondo ganharam, por distração dos nosso parlamentares, o direito a liberdade provisória e se verá que não há motivos para temer o ingresso de parlamentares analfabetos no quadro político nacional.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Caiu a ficha

"Estamos aniquilados.”

(José Aníbal, ao saber que a popularidade de Lula continua em alta.)

"Dá até desânimo de fazer oposição."

(Gustavo Fruet, diante da mesma notícia.)

"Volto a dizer o que tenho dito nos últimos meses: ou a oposição promove uma limpeza em praça pública, ou Lula se reelege."

(Nariz Gelado, há quatorze meses, pregando no deserto.)

"Esta eleição - entendam, senhores emplumados - não é decisiva para Geraldo Alckmin. Esta eleição é decisiva para o PSDB. Ou o partido toma vergonha na cara agora, ou sairá dela completamente rachado, entregue a um abismo ideológico sem precedentes."

(Nariz Gelado, há seis meses, ainda pregando no deserto.)

Como parece que agora a ficha caiu, vou tentar mais uma vez:

"Ninguém gosta de frouxos. Ou os senhores honram os votos recebidos e continuam firmes na oposição, ou daqui a quatro anos estarei comentando - e comemorando! - a vossa saída do cenário político nacional."

(Nariz Gelado, hoje, avisando que é melhor lutar por uma causa perdida do que capitular covardemente.)

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Lembra?

Já que o STF determinou o arquivamento do inquérito contra o senador Aloizio Mercadante no caso do dossiê, vale a pena lembrar...

deonde2.jpg

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Quem sabe?

Talvez seja hora de partir para ataques cirúrgicos.

Que tal a gente começar a fechar as torneiras que alimentam tantos desmandos?

Não me façam rir, senhores

A oposição está se articulando para antecipar-se ao Supremo Tribunal Federal e criar uma CPI do Apagão Aéreo no Senado. A argumentação principal é de que o maior equíbrio entre forças governistas e oposicionistas a caracterizar o Senado garantiria mais agilidade para a convocação de depoimentos e as solicitações de quebras de sigilo.

Não sei, não.

Primeiro, onde estava o tal "equilíbrio de forças entre governistas e oposicionistas" por ocasião da eleição para a presidência daquela casa? A votação de José Agripino não correspondeu, nem de longe, a tal equilíbrio. Segundo, vamos falar francamente: CPI pra quê? Há seis dias, o relatório final da CPI dos Correios completou um ano sem que tivesse gerado qualquer resultado prático.

Levante a mão quem acredita que uma CPI do Apagão Aéreo vai realmente resolver a bagunça nos aeroportos.

terça-feira, 10 de abril de 2007

Pesquisa CNT, minha bola de cristal e o senso comum

A CNT acaba de divulgar os resultados de sua pesquisa:

49,0% dos entrevistados são favoráveis à adoção da Pena de Morte e 46,0% são contra.

Em maio de 2003 esses índices eram, respectivamente, 46,7% e 49,7%.

Sobre a Redução da Idade Penal de 18 para 16 anos, 81,5% se dizem a favor, e 14,3% contra.

O aumento do Salário Mínimo de R$ 350,00 para R$ 380,00 foi classificado como Baixo/Inadequado por 59,1%.

Para 22,6%, o novo aumento não é nem alto nem baixo. Para 22,6%, o novo aumento não é nem alto nem baixo. já para 16,3%, o Salário Mínimo é alto.

E Lula?

O desempenho pessoal do Presidente Lula foi aprovado por 63,7%

A avaliação do Governo foi considerada Ótima ou Boa por 49,5%

Pois comparem estes resultados com o que eu tinha adiantado, há mais de duas horas, no post anterior.

Não, eu não tenho fontes dentro da CNT. Também não tenho bola de cristal.

É que há uma fórmula simples para acertar antecipadamente os resultados de pesquisas no Brasil : estar atento ao que a mídia de massa divulga como senso comum. Prestem atenção: não importa se é ou não o senso comum. Importa é que passa a sê-lo, no momento em que a mídia de massa assume como tal. Vejamos os exemplos para o caso em questão...

Com a super exposição do assassinato do menino João Hélio - e a compreensível revolta popular provocada pelo hediondo crime - a pena de morte entrou novamente em pauta. Natural, pois, que seu índice de aprovação apareça mais alto que da última consulta. E se a redução da maioridade penal aparece melhor colocada, é justamente porque a mídia de massa - a despeito de haver apenas um menor envolvido na morte de João Hélio - decidiu que este era o tema a ser colocado em pauta.

Quanto ao salário mínimo... Creio que não há, na história da televisão brasileira, um mês de março onde nossas telinhas não tenham sido invadidas por depoimentos de brasileiros dizendo: "o salário não é o ideal, mas é melhor do que nada". Eis porque a pesquisa a respeito deste item, realizada nesta época do ano, tende a se apresentar mediana. Fizessem a coisa em agosto e talvez fosse diferente.

E a popularidade de Lula? Para além de qualquer medida de governo, Lula continua batendo recordes de exposição na mídia. Pródigo em senso comum, piadas e comportamento vulgar, ele é beneficiado por uma mídia que explora até a última gota suas características pessoais - e essencialmente populistas. Pouco importa que, depois dele, venha um Arnaldo Jabor fazendo crítica. O espaço de Jabor sempre será menor. E o povo não entende o que o Jabor diz.

No senso comum, pois, Lula é um bom presidente - a despeito de seu governo. É por isso que seu governo sempre apresenta um índice menor de aprovação do que sua pessoa. Porque é essa a forma como a própria mídia de massa o apresenta: um falastrão simpático e irresponsável, que pouco ou nada tem a ver com o governo. Acho que alguém já disse que Lula está para nós como a Rainha da Inglaterra para os ingleses. É isso mesmo.

Da próxima vez que a CNT quiser informações sobre a opinião pública, pode dispensar a pesquisa e vir me consultar.

O de sempre

Dentro de 30 minutos, a CNT - Confederação Nacional dos Transportes - vai divulgar pesquisa sobre os primeiros 100 dias do governo Lula. Em pauta, o desempenho político do presidente e a popularidade de seu governo. Também o impacto do novo salário mínimo na economia, a redução da maioridade penal e a pena de morte foram pesquisadas.

Façam suas apostas. As minhas são:

Altos índices de aprovação para a redução da maioridade penal e para a pena de morte.

O salário mínimo receberá uma aprovação mediana.

E Lula?

Bem... A popularidade de Lula estará alta - um pouco acima do índice de aprovação do seu governo.

Depois que sair o resultado, eu volto.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

É ou não é?

Três jovens portugueses trafegam à noite pelas estradas da misteriosa Sintra. Solícitos, eles param para dar carona a uma bela garota. Na seqüência, descobrem que se trata, na verdade, de um fantasma. Mentira ou verdade?

É a polêmica estabelecida no Youtube. Bem feito, o vídeo está dividindo a opinião pública e já virou cult movie no site de vídeos mais acessado do planeta. Há quem acredite na coisa a ponto de criar listas de discussão sobre o tema.

Eu aposto numa brincadeira de admiradores da Bruxa de Blair, que resolveram render uma homenagem ao filme, utilizando a mesma forma com a qual ele foi divulgado à época de seu lançamento. Se não por todas as evidências, pelo menos pelo cabelo lisinho - modelito obrigatório, como vocês sabem, de <a href="toda a <a href="alma penada que pretenda alcançar algum sucesso no mundo do entretenimento .

Clique aqui para assistir apenas o trecho mais horripilante e aqui para assistir a versão completa.

Faltou talento

No início de março, a Dolce & Gabbana retirou das ruas sua última campanha. Pesava, sobre a grife, a acusação de que estaria incentivando a violência contra a mulher. Foi apenas um round mais ruidoso entre Domenico Dolce e Stefano Gabbana e os movimentos dos direitos humanos. Já se acumulavam, há algum tempo, os protestos contra os anúncios da grife, que andava usando, com certa freqüência, imagens de submissão feminina em suas campanhas.

dolce.jpg

Dolce & Gabbana: ambigüidade e polêmica.

Na época do recuo da D&G, não cheguei a escrever sobre o tema. Conversando com amigos, porém, levantei dois pontos: o primeiro, é que a imagem utilizada poderia não necessariamente representar violência, mas fazer uso do próprio imaginário feminino. Sim, minhas queridas ... A imagem acima pode não fazer parte do meu ou do seu imaginário sexual mas, desde a década de 1970, quando Shere Hite publicou seu polêmico relatório, sabe-se que ela encontra eco, enquanto fantasia, junto a um número significativo de mulheres. Inverta-se a coisa - colocando um homem na posição da modelo, sob olhar de um grupo feminino - e o elemento "violência" simplesmente desaparecerá junto com os protestos. Isto nos dá bem a medida de que o anúncio chocou muito mais pelo que sugeria a respeito do comportamento sexual feminino do que pela suposta carga de violência contida na mensagem.

O segundo ponto que levantei à época é que marcas de moda vivem de conceito e exposição. Quando uma grife ganha espaço na mídia mundial, tornando-se foco de uma polêmica, seus donos podem se dar por satisfeitos. É o tal ditado: "fale bem, fale mal, mas fale de mim". E há um segundo, tão velho quanto este, que avisa que "em propaganda nada se cria - tudo se copia". Não demorou para este último se concretizar em terras tupiniquins.

É assim que, folhando a Veja desta semana, me deparei com o anúncio da MTV. Dois bonecos ( Barbie e Ken?) protagonizam uma cena que é só violência: nua, ela é arrastada por ele na direção de um forno. Para melhor esclarecer, a chamada avisa: "Uma diva da música. Um astro de Hollywood. Um dia, ele colocou a cabeça dela em um forno ligado." Em seguida, somos avisados de que duas vezes por semana, a MTV conta "as melhores e mais divertidas histórias da música".

dolce2.jpg

MTV: só mau gosto.

Ao contrário do que acontecia no anúncio de Dolce & Gabbana, aqui não há margem para dúvidas: é crueldade explícita, sem qualquer encanto, que a utilização de bonecos não pôde amenizar - ao contrário, parece que deixou a coisa ainda mais tétrica. E é crueldade aprovada: colocar a cabeça de uma mulher dentro de um forno ligado é "uma das melhores e mais divertidas histórias da música".

É provável, muito provável, que tanto agência quanto o anunciante estejam atrás de polêmica. Não raro, a MTV brasileira, na sua busca incessante por vanguardismo - que, de resto, costuma ser a pedra de toque das marcas voltadas para o público jovem - peca pelo mau gosto. Talvez eles queiram mesmo provocar protestos - algo assim como aquela ameaça de boicote sofrida pela Dolce & Gabbana, que possa lhes render algumas páginas na imprensa. A diferença crucial é que, neste caso, faltou sensibilidade, classe e magia - o que significa, em última análise, que vai ser difícil encontrar quem os defenda.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Rousseau, Voltaire e o palito de picolé

Nossos pais jamais precisaram comprar água engarrafada. Nós vivemos à base de garrafinhas, filtros e bombonas. Adaptamo-nos. Isto deveria servir para ilustrar que, até agora, a nossa civilização tem encontrado saída para os problemas que ela mesmo cria.

Que a questão não é nova, fica claro naquela discussão entre Rousseau e Voltaire. O primeiro afirmou que se os homens não construíssem casas, elas não lhes cairiam sobre as cabeças. O segundo avisou que estava velho demais para viver em árvores e voltar a andar de quatro.

Sou mais Voltaire. No mínimo porque há muita grana a movimentar este pânico ambientalista que tomou de assalto as mentes e corações do terceiro milênio. Reciclar o lixo é ótimo e necessário. Mas culpar-se pelos irreversíveis confortos da vida atual em nome das gerações futuras não serve para nada - talvez, apenas para aumentar a venda de antidepressivos.

Nascido na decada de 1970 como movimento contra-cultural, o discurso ecológico foi engolido pelo sistema. Consciência ambiental é, hoje, bem de alto valor no mercado. Você já não compra apenas rímel: você retoca os cílios com a certeza (?) de estar protegendo a Mata Atlântica. E aquele desejo incontrolável de um picolé à beira-mar é mais do que gula. No fundo, o que você quer é ler, no final, aquela frase gravada no palito: " Madeira de reflorestamento".

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Coisas para fazer no feriado de Páscoa

Assistir ao Maria Antonieta de Sofia Coppola.

Impressionar os amigos com uma receita de bacalhau ótima e fácil.

Tentar provar para as crianças da família que o coelhinho existe.

Ler a coluna de estréia do meu ilustre vizinho, Ruy Goiaba,
na Revista Bizz.

Colocar parte deste seu maravilhoso talento a serviço da felicidade alheia.

Cair <a href="nesta tentação.

Descobrir se há alguma tentação que você ainda não conheça.

Redimir-se da primeira com o circuito aeróbico da Cris Tosta

Dar graças ao céus que este é um feriado cristão, que há perdão no cristianismo e tentar se redimir das suas últimas descobertas aqui.

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Em terra de frouxos, quem tem palavra é rei.

Amanhã tem velinhas.

Poderiam ser de aniversário, mas são de velório: o relatório final da CPI dos Correios está completando um ano. Ninguém foi preso, ninguém chamado a dar satisfações e, o que é pior, dos 19 órgãos que receberam o relatório, 14 se deram ao luxo de não dar retorno ou tomar as providências cabíveis. As desculpas são várias e estapafúrdias. A mais escandalosa é a da Casa Civil: diz o pessoal da ministra Dilma que Renan Calheiros (que surpresa!) enviou-lhes o relatório sem a resolução de aprovação - o que os desobriga a prestar informações ao Congresso.

É o país de Lula - aquele que, durante a campanha presidencial prometeu que todos seriam punidos. Se não me engano, ele também alegou que não havia mais corrupção em seu governo - a corrupção estava apenas aparecendo mais, porque ele determinara que tudo, absolutamente tudo, fosse apurado.

Agora o relatório da CPI dos Correios está indo para o lixo sem que a oposição faça qualquer barulho. Se fez, nem eu - nem a torcida do São Paulo - ficamos sabendo. E se não ficamos sabendo é porque, se protesto houve, deve ter sido algo bem mariquinhas, no estilo menininhas de colégio interno que, com raras exceções, tem caracterizado a ação de nossos políticos que se dizem oposicionistas.

Depois o pessoal fica procurando mil explicações para o fato de um cara assim amanhecer rei. Este, pelo menos, cumpre o que promete.

O Brasil nunca foi tão Lula

O bom andamento do feriado de Páscoa não será atrapalhado pelos controladores de vôo.

A greve será retomada quando os brasileiros estiverem voltando ao trabalho.

terça-feira, 3 de abril de 2007

Os idiotas

É noite de sexta-feira. Você já está há cinco ou seis horas no aeroporto e nada de chamarem seu vôo.

No balcão da companhia aérea, tudo o que lhe dizem é que há um problema em Brasília. Não, eles não sabem lhe dizer se o seu vôo vai sair hoje. Também avisam que é melhor você não deixar o aeroporto porque eles podem chamar para o embarque a qualquer momento. Falando mais alto para se fazer ouvir, pois já há passageiros aos gritos no balcão ao lado, a atendente lhe aponta a imensa fila onde estão distribuindo o famigerado vale-lanche.

Você suspira irritado. Esta bagunça já vem desde outubro - e, aqui, pouco importa se você sabe porque viu na TV ou porque já é a décima vez que se torna vítima da coisa. No momento, tudo o que você pode fazer é ligar para quem o está esperando no local de destino e avisar do atraso. Do outo lado da linha, porém, quem o espera informa que a coisa vai demorar: os controladores de vôo estão em greve e os principais aeroportos do país estão fechados para decolagem. É quando você é cegado por uma luz. No segundo seguinte, um repórter coloca um microfone à sua frente e pede declarações sobre a situação.

E o que você faz? Você reclama da falta de informações, da fila do lanche, dos compromissos e negócios que vai perder, da incerteza de embarcar ou não, da possibilidade de fazer novas e imprevistas despesas de hospedagem... Você, enfim, reclama de quase tudo. Mas, coisa impressionate, por mais que você já esteja informado de que é uma greve - o velho problema, pois, que se arrasta desde outubro - , você não lembra de cobrar a fatura a quem de direito: não fala do governo, não cita o nome do presidente Lula, não cobra uma solução. Dias antes, o responsável pela coisa invadiu a TV da sua casa prometendo colocar um prazo para o fim da bagunça e, agora, diante da imprensa, tudo o que você consegue fazer é choramingar o lanchinho.

Ok, você pode ser apenas um idiota. Mas, me responda uma coisa: de quantos idiotas se faz uma multidão aprisionada em aeroportos? E por que só eles são ouvidos pelos repórteres? Você não acha que há, engavetados nas redações das nossas redes de TV, depoimentos de não-idiotas que, por um mistério qualquer, não foram levados ao ar?

Este post é uma homenagem ao Soube, que levantou esta questão no último domingo.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Teoria da conspiração... Eu também tenho a minha, ora bolas!

E ela aconselha cautela com esta fórmula "quebra da hierarquia militar + militares de alta patente descontentes + presidente populista".

Uma venezuelização do quadro político nacional é tudo o que eles querem. Esta pode, aliás, ter sido a pedra de toque do governo tanto no que respeita ao desleixo com os relatórios recebidos desde 2003, quanto neste (aparentemente?) tresloucado desmando de Lula na última sexta-feira.

Alguém aí pode garantir que o PT não tem miliância dentro das forças armadas?

Diploma de burrice plena

Desde outubro, quando teve início o apagão aéreo, os militantes do bufão palanqueiro ensaiam um mantra que agora começa a ganhar força total: " crise no setor aéreo só afeta a quem anda de avião".

Não deixa de ser uma declaração coerente para quem elegeu - e reelegeu - um semi-analfabeto para ocupar a presidência da República.

Aconteceu

A vergonhosa capitulação de Lula diante do motim dos controladores nos jogou no vácuo. É sem atrito, pois, que vamos curtir esta descida rumo ao abismo.

Humilhados - e sem motivos para confiar no Presidente da República - os oficiais da Aeronáutica abandonaram a chefia e supervisão do controle de tráfego aéreo.

Temos, então, que o controle aéreo do país está nas mãos de quem declarou, mediante manifesto publicado na última sexta-feira, não confiar nem em si mesmo e nem nos equipamentos: "Chegamos ao limite da condição humana, não temos condições de continuar prestando este serviço, que é de grande valia ao País, da forma como estamos sendo geridos e como somos tratados. Não confiamos nos nossos equipamentos e não confiamos nos nossos comandos! , foram as palavras dos controladores de vôo.

Não deve ser surpresa que, diante deste quadro geral de desconfiança, a A Federação Internacional de Pilotos tenha publicado um manual orientando empresas aéreas estrangeiras a respeito dos riscos de voar pelo Brasil.

Ou seja: conforme amplamente anunciado por este blog nos últimos quatro anos, o bufão palanqueiro acaba de nos jogar no abismo.