Nariz Gelado

O homem-engradado ataca novamente

Lula é o nosso homem-engradado.

Não, não é o que vocês estão pensando - pelo menos, não é só isso. Por enquanto, nos contentemos apenas com o fato de que a sanha palanqueira de Lula é tamanha, que ele parece andar sempre com um engradado às costas, no qual sobe, a qualquer hora e local - não importando se a ocasião é ou não apropriada - , para emitir seus discursos.

Eivados de uma agressividade que não corresponde às necessidades da atual conjuntura - na qual a oposição não lhe oferece qualquer ameaça - tais discursos tem por fim manter o país em clima de campanha. Há sempre a auto-exaltação, o desmache dos governos anteriores, o humor vulgar e a eleição de um adversário qualquer - um que que lhe forneça a oportunidade de ainda parecer oposição, ou seja: de ainda passar a idéia de que luta contra forças hegemônicas quando, na verdade, a única força hegemônica que ainda persiste neztepaiz é a ignorância de seu palavrório, à qual somos constantemente submetidos por obra e graça da imprensa.

Exemplos não faltam. Nos últimos dias, ele elegeu o laboratório Merck como inimigo - episódio muito bem analisado por Guilherme Fiuza em seu artigo de hoje. Também declarou - coisa curiosa para o presidente honorário de um partido anti-ético e amoral como o PT - que quer discutir os "valores da família brasileira" com o Papa. E, como se já não fosse besteira o suficiente para uma única semana, ontem teve a pachorra de dizer que os mensaleiros, e todos os que foram investigados por corrupção no seu primeiro mandato, foram vítimas de “difamação” - o mesmo tipo de difamação que o regime militar impôs a gente como dom Paulo Evaristo Arns e dom. Helder Câmara.

Eu já falei isso aqui uma vez mas, mesmo correndo o risco de ser pouco original, vou repetir: a imprensa está comendo mosca. Desde o primeiro mandato que ela dá destaque demais a Lula. Depois se queixa que ele não concede entrevistas. Ora, ele não concede entrevistas porque não precisa delas. Porque precisaria, se sua deplorável imagem ocupa boa parte dos nossos programas jornalisticos? Está mais do que na hora da imprensa - principalmente a televisiva - atentar para dois fatos muito singelos. Fato um: informar é diferente de promover uma superexposição da figura presidencial. Fato dois: quem quiser tirar o chão do homem, terá primeiro que chutar o engradado.