segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A esquerda apavorada

A Folha de S. Paulo traz , hoje, dois artigos que indicam que aquele rótulo inaugurado por Cláudio Lembo no ano passado, "elite branca", não colou. Em substituição a ele, retorna um velho conhecido nosso - denunciador, por si só, da pobreza conceitual que tão bem carateriza a esqueda latino-americana.

Ao comentar artigo de Reinaldo Azevedo e o caso do Rolex de Luciano Huck, Zeca Baleiro classifica a revista Veja como "notório reduto da ultradireita caricata" e avisa que "nem por isso" ela é "menos perigosa".


Já em artigo sobre a impossibilidade de um terceiro mandato para Lula, Fernando de Barros e Silva chama de "extrema direita alvoroçada", àqueles que insistem "em projetar a sombra do chavismo sobre os atos e rumos do governo Lula".

Não que o Brasil esteja livre de uma direita caricata. Longe disso. Há, de fato, alguns exemplares da dita cuja circulando pela vida política nacional. - e já os apontei em pelo menos duas ocasiões.

Classificar, porém, a Veja como porta-voz deste pequeno a insignificante segmento da sociedade brasileira revela um desespero argumentativo próprio de uma esquerda que, uma vez tendo chegado ao poder, naufraga na incompetência e na falência moral de seus representantes. O problema de gente como Zeca Baleiro não é a decadência ética do quadro político nacional. O problema é de quem denuncia tal coisa - pouco importando se, no passado, denunciou, para deleite das esquerdas nacionais, os escândalos do governo Collor e do governo FHC.

Da mesma forma, declarar que a associação entre o chavismo e o lulismo é coisa de uma "extrema direita alvoroçada" é querer levar o debate para um campo polarizado e maniqueísta - o único no qual a nossa esquerda se sente à vontade para debater. Ali ela pode criar constrangimentos - e tentar calar, mediante a rotulação rasteira, aqueles que percebem as simpatias de setores importantes do governo Lula à estratégia chavista. Pode, inclusive, fazer de conta que a retórica de Baleiro e Barros não apresentam o mesmo bolor demagógico daqueles infindáveis discursos que Chávez profere contra o "imperialismo norte-americano".

Desconfio que, nos próximos dias, assistiremos a um aumento deste tipo de ataque - apressado, dicotômico e sem qualquer fundamentação que possa sugerir uma renovação por parte da esquerda nacional. Por razões que já expliquei outro dia, nossa esquerda está um tantinho apavorada. Foi pega de surpresa por um movimento espontâneo, nascido da própria decepção com o governo de seu mais emblemático representante: graças a Lula, o brasileiro perdeu a paciência com aquele discurso padrão da esquerda.

Que o Secretário de Segurança do Rio se sinta a vontade para solicitar "não me venham com discursos acadêmicos" é um sinal. Que um consagrado autor de novelas declare que "ter carteirinha do PT" autoriza a tudo é outro. A esquerda sabe disso - e, incapaz de gerar uma argumentação inovadora, está recorrendo às velhas fórmulas.

6 comentários:

Angela disse...

Eu não li o texto do Zeca Baleiro na folha, por
estar, cansada de ver malharem o Huck, como se este não tivesse direito de se manifestar,o que, aliás, é que estes esquerdistas pensam, só eles são o dono da verdade, engraçado, quando era estudante, lá pelos finais dos anos setenta, tinha convicção absoluta porque defendiamos a democracia e agora lendo o texto do jornalista Fernando de Barros e Silva, estou incluida nesta
"direita alvoroçada", pois não duvido que eles tentarão com a desculpa de fazer a reforma política fazer aprovar junto com esta o 3o.mandato para o LULA.

Lefebvre disse...

Há dois movimentos em curso. Um deles tenta sabotar os planos de quem se recusa a aderir ao petismo. Esse aí é básico. As Bolsas esmola de tudo quanto é tipo, os direitos humanos, a sociologia banguela e tal.

Já o segundo visa manter a base dos companheiros engajados. Você já deve ter notado que os petistas de primeira viagem já se arrependeram do voto. Muitos de décadas evitam falar na mesa porque sabem: estão errados, o governo é corrupto, patati, patatá.

Depois de décadas de pregação político-religiosa, o PT conseguiu o exército dele sim, mas um exército que não sabe pensar, não sabe tirar conclusões. Os argumentos que a cúpula transmite aos subordinados não estão vencendo as discussões. O pessoal tá desesperado.

Agora é o momento de partir para a peleja propriamente dita.

André BH disse...

O seu texto é muito amplo.
Talvez o antigo "núcleo-duro"do primeiro mandato fosse um pouquinho alinhado com a maneira chavista de administração,mas o atual não é.
Se depender de quem manda nesse governo(Paulo Bernardo,Dilma Roussef,Mantega e Meireles),até 2010 vamos viver um pragmatismo que eu diria sem precedentes na administração pública brasileira.
Sempre vai ter uma coisinha aqui e ali.Afinal,notícia boa não vende jornal.
Naturalmente a esquerda caricata seguirá pro PSOL,PSTU e PV.Isso é bom.
A direita caricata,como aquele ator,o Vereza,é que eu não sei como fica.
A direita Venezuelana é imcompetente demais.Após tanto tempo e com os veículos de comunicação nas mãos,não consegue encampar um nome de peso pra competir com o Chavez.É impressionante.
Quase a totalidade dos empresários brasileiros querem a Venezuela no Mercosul,e o PSDB sabe disso.
ABS.

(N.G.: Carlos Vereza é direita caricata? rsrsrs André, não é meu texto que é muito amplo - é a sua mente que é muito estreita.)

Daniel F. Silva disse...

É a esquerda e o seu velho e batidíssimo "monopólio da moral"... Coisa que conhecemos muito bem.

Lina disse...

Não agüento mais ouvir desses petistas a falação em torno da Globo, da veja e do jornal O Estado de São Paulo.
Para mim são os três veículos de comunicação mais competentes do país e esses petistóides não aguëntam ser desmascarados, não sabem conviver com os que lhe são contrários, só sabem levar tudo na porrada.
Sou assinante da Veja há muitos anos e não a troco por nenhuma outra. É uma revista de jornalistas competentes, inteligentes e isentos.
A Globo, quer eles queiram ou não, é a Rede de Televisão mais vista do país porque competência e bom gosto não lhe faltam o que falta aos petistas.
O PHA e o Luiz carlos Azenha desde que levaram um pontapé no traseiro não fazem outra coisa a não ser cuspir no prato que comeram.
Nariz Gelado, você já soube quanto a Globo arrecadou com as doações do Criança Esperança? Se não ficou sabendo, aí vai: quase 15.000.000,00.
muito bom, não é mesmo? não adiantou nada a campanha difamatória "deles".
É isso aí, o povo brasileiro ainda acredita na competência.
Quem não tem competência não se estabeleça.
Um abraço,
Lina

Guimas disse...

Os comentários ao texto evidenciam porque Lula está no poder: qual é a alternativa?

O governo Lula está se apropriando gradativamente de bandeiras importantes dos tucanos (por mais amnésicos que os anti-petistas sejam, o bolsa-família, por exemplo, é projeto do PSDB), e como o público-alvo da oposição à Lula só conseguiu produzir algo como "Lula é feio, barbudo e tem a língua presa", ficamos com qual debate mesmo?

Que o PT tem gente despreparada, desonesta, de pensamento arcaico, já estou careca de saber, dá até pra citar nomes.

E os tucanos? E os DEMos? Tá cheio dessa gentinha lá também, louca por um lugarzinho no poder.

O problema que vejo é a radicalização, a transferência do debate aos extremos: a oposição faz aquilo que mais se criticou no PT quando FHC era presidente: radicalizar o discurso, emperrar o debate político, apostar no "quanto pior, melhor".

Qual a diferença? Em tese, os tucanos representam a elite produtiva do Brasil, e, por isso, seriam mais preparados na administração do país. Infelizmente (note bem o advérbio), o governo Lula mostrou que isso não é verdade.

Essa noção política que se baseia somente na luta de classes é tão arcaica quanto a esquerda apavorada.

(N.G.: na minha opinião, o governo Lula deixa muito a desejar para se arvorar a mostrar o que é ou não verdade. Quanto à luta de classes, sabe-se que a esquerda não gosta de ver este discurso utilizado contra ela.)