sábado, 1 de dezembro de 2007

A cegueira por opção

Li, há pouco, que o o célebre torcedor e conselheiro do Corinthians, o deputado petista José Genoíno, pretende ficar afastado da TV neste domingo. O ex-presidente do PT não quer ver seu time ser rebaixado para a segunda divisão.

É interessante como as pessoas repetem padrões de comportamento.

Em julho de 2005, quando ficou claro que Marcos Valério era o principal avalista do PT, a resposta de José Genoíno - que até então negava qualquer relação do partido com o careca - evidenciou uma postura muito parecida: ao ver sua assinatura junto à de Valério, Genoíno declarou que assinara os contratos sem ler. Assinara, segundo disse, confiando em Delúbio: "Quando assinei era em confiança ao Delúbio. Estava havia dois meses na presidência do partido".

Digamos que sim, que estamos dispostos a acreditar que alguém assinaria empréstimos na ordem de R$ 2,4 milhões sem ler. Seria mais ou menos como desligar a TV para não ver o Grêmio rebaixar o Corinthians: Genoíno simplesmente não queria ver Delúbio rebaixando o PT.

Ocorre que houve outra oportunidade. Quem tiver a Playboy de outubro de 2005, por favor, verifique as citações literais - eu perdi a minha e conto, agora, apenas com a memória. Pois em entrevista àquela edição da Playboy, o jornalista Ricardo Noblat afirmou que já em 2003 havia prevenido José Genoíno a respeito de Silvio Pereira e Delúbio Soares.

Se estou bem lembrada, Noblat relata à Playboy que Genoíno lhe telefonou preocupado porque soubera que a Veja estava preparando um perfil de Delúbio. O presidente do PT queria, então, saber se o jornalista ouvira alguma coisa a respeito. Noblat teria dito a Genoíno que estava ouvindo muita coisa a respeito de Delúbio e Silvinho, que eles andavam aprontando poucas e boas e que Genoíno deveria tirar Delúbio de circulação.

Até hoje não entendo porque esta entrevista foi ignorada por todos os que se debruçaram sobre o caso. Talvez porque, desde que o escândalo do mensalão veio a furo, há uma certa predisposição da opinião pública em ver José Genoíno como um tolo inocente, que entrou de gaiato na rede de corrupção formada por Dirceu, Delúbio e Silviinho - imagem que o próprio Genoíno faz questão de reforçar, sempre que surge uma oportunidade. Mas a entrevista do Noblat à Playboy é a prova de que José Genoíno sabia, já em 2003, que havia algo de podre acontecendo entre seus companheiros. E o melhor que se pode dizer dele é que, tal qual pretende fazer com o jogo do Corinthians amanhã, ele simplesmente escolheu não ver.

2 comentários:

Kika Albuquerque disse...

NG

Segue o link da entrevista de Noblat:

http://playboy.abril.com.br/revista/edicoes/364/aberto/entrevistas/conteudo_94981.shtml

Bjs

Kika

(N.G.: oi, querida. Eu já tinha visto esse. O problema é que só dá acesso à primeira pagina. Para ver as seguintes, é preciso da senha do assinante. Bjs)

Tambosi disse...

O que não me surpreende é que o Genoíno tenha telefonado para o Noblat. Talvez de madrugada. Amigos, amigos...
A alcunha que ganhou na blogosfera é perfeita: Cubano.