"Eu acho que o partido analisa e avalia sua estratégia em cada local. Eleição municipal é eleição municipal, não vamos perder isso de vista".
(José Serra, sobre a aliança PT/PSDB para a prefeitura de Belo Horizonte)
"Acho que não podemos dar às eleições municipais um caráter maior do que elas têm. São eleições fundamentais, mas que se decidem nos municípios, em função das características políticas locais, nomes locais. Não vejo um link direto, por exemplo, das eleições municipais com eleição nacional".
(Aécio Neves, sobre a aliança PT/PSDB para a prefeitura de Belo Horizonte)
Eis o que disseram à Folha de S. Paulo, após um jantarzinho íntimo, os dois tucanos mais cotados para a corrida presidencial de 2010.
Nada surpreendente, já que há muito ambos têm mostrado uma disposição e tanto para sentar no colo do PT. Aécio não descarta fazê-lo via PMDB - partido através do qual poderá obter o apoio de um Lula que, ponto G à parte, não conseguiu gerar um herdeiro petista. Serra não hesitará em tratar uma aliança nacional com o PT da mesma forma que trata, agora, a aliança na capital mineira. A argumentação será, por óbvio, a mesma: "a eleição em São Paulo foi fundamental, mas decidida em função de rivalidades locais - portanto, sem qualquer link com eleição nacional, cujo foco deverá ser a governablidade, a continuidade de um quadro de estabilidade econômica" , blá, blá, blá...
Com o apoio de Lula e da máquina governamental, qualquer um dos dois se elegerá presidente. É provável que o PSDB opte por Serra em função da idade - Aécio pode esperar. Porque cara de pau para justificar uma aliança nacional PT/PSDB ambos já mostraram que não lhes falta. Defenderão tal coisa com a mesma falta de vergonha que usaram para defender a permanência da CPMF - com a diferença de que, desta vez, não haverá Sergio Guerra, Arthur Virgílio ou Álvaro Dias que possa reverter a situação. Aquele Fernando Henrique que disse uma vez "chegou a hora do Lula" dirá, então, que "chegou a hora de unir-se a Lula".
Eis o quadro para 2010: o PT seguirá no poder. Talvez se torne, dentro de uma década, o novo PMDB - aquele partido que chegou ao poder aglutinando toda a esquerda nacional e que, uma vez lá, virou um frankstein programático e ideológico para não largar o osso.
Este quadro poderia mudar se surgisse um candidato com um histórico de enfrentamento legítimo com o PT. Um que pudesse rachar o PSDB ao meio, levando consigo eleitores e militantes para um partido verdadeiramente oposicionista. Sim, é isso mesmo: Geraldo Alckmin no DEM faria um bom estrago no acordão PT/PSDB que agora se alinhava.
Faria, se não tivesse perdido o timing. Faria, se não tivesse o umbigo enterrado em um PSDB que só existe em suas lembranças. Faria, se tivesse percebido que Serra usaria a tradicional e infalível teimosia alckmista para colocar Geraldo no centro do conflito pela prefeitura de São Paulo, indispondo-o com o DEM. Agora é tarde. Geraldo Alckmin não vai levar nem prefeitura nem governo. Comeu mosca. E, por conta disso, nós continuaremos a engolir o PT.