quarta-feira, 26 de março de 2008

Marisa, pede pra sair

Por esses dias, só há uma coisa que se pode esperar de uma CPMI onde a oposição é franca minoria: que ela sirva de palco para a má vontade do governo em fazer qualquer investigação séria. Que, de Paulo Okamotto a Lula, ela seja a moldura a destacar o medo compulsivo que os atuais ocupantes do Palácio do Planalto têm de qualquer tipo de quebra de sigilo. Que forneça, enfim, muitas imagens que poderão ser utilizadas em campanhas futuras.

Aliás, abro parênteses para dizer que eu espero, do fundo do meu coração, que os assessores parlamentares e aspirantes a marqueteiros políticos andem gravando as sessões de CPIs. Em 2006, a campanha de Geraldo Alckmin não tinha uma só imagem da camarilha petista depondo - ou melhor, se negando a depor - nas escandalosas CPIs de 2005. Sim, é isso mesmo: se há algo que foi distribuído igualitariamente na nossa classe política é a burrice - e a gente se pega tendo que sugerir as coisas mais ridiculamente óbvias.

Fechando parênteses e retornando ao ponto: a única coisa que se pode esperar de uma CPI onde a oposição tem minoria é que ela escancare a podridão governista. Exatamente como aconteceu hoje, na reunião da CPI dos Cartões. Ali estava Ideli Salvatti tentando impedir a todo custo que o general Jorge Félix fosse convocado. Ali estava Almeida Lima, aos gritos, fazendo o possível para esculhambar e encerrar a reunião. Ali estava o deputado petista Luiz Sérgio, em vergonhosa postura para um relator, somando-se à tropa de choque governista para evitar a convocação de Dilma Roussef. Finalmente, ali a má vontade do governo Lula em investigar qualquer coisa materializou-se em um documento que orienta sua base a paralisar a CPI, votando contra todos os requirimentos sugeridos pela oposição.

Ou seja: a reunião de hoje foi mais do que frutífera, na medida em que pode ser frutífera uma CPI realizada em total desequilíbrio de forças. Por isso, fica incompreensível a chorosa decisão da senadora Marisa Serrano de adiar a reunião prevista para amanhã, na qual seriam ouvidos o ministro da Pesca e o ministro do Esporte. A senadora justificou o cancelamento com uma declaração bem pessoal: se disse frustrada por não conseguir fazer as coisas que ela sabe que deveriam ser feitas.

Me parece que o problema da senadora é um pouco diferente. Ela é que não quer fazer a única coisa que, na atual conjuntura, pode e deve ser feita na CPMI dos Cartões: armar o circo e armazenar munição para embates futuros. Não sei se lhe falta estômago, se ela teme macular sua carreira política com jogo tão baixo ou se, sabe-se lá, evita acumular carma negativo para vidas futuras. O que sei é que cabe a ela, enquanto membro mais importante da oposição naquela CPMI, desempenhar este papel nada bonito - mas absolutamente necessário. Se a senadora não se sente apta a tanto, que peça pra sair.

3 comentários:

marie tourvel disse...

Duro é ouvir Ideli Salvatti -aquela beldade, dizer que Dilma representa um papel muito importante hoje para o país e "quiçá" representará mais em 2010. Eu não sei não, mas acho que isso aqui virou um grande hospício. Nem a lama mais incomoda.

Jorge Nobre disse...

Esse pessoal que fala tanto em fim das ideológias deveria prestar atenção a esse fato: quem tem ideologia luta com vontade, quem não tem não luta com vontade. E na política ganha quem luta com mais vontade.

Por isso eu acho que dá mais resultado reabilitar o termo direita que decretar que direita e esquerda não existem mais. O resultado será sempre o mesmo: os que não são de direita nem de esquerda sempre perderão para os que são de esquerda.

Ângelo da C.I.A. disse...

Li isto e quase caí:
Em 2006, a campanha de Geraldo Alckmin não tinha uma só imagem da camarilha petista depondo - ou melhor, se negando a depor - nas escandalosas CPIs de 2005.

É verdade mesmo? Ora, eu sempre achei que não usavam as imagens por alguma opção tática. Melhor dizendo, covardia mesmo. Ainda que não tivessem as imagens, era só pedir aos arquivos das emissoras, talvez até mesmo as das TVs Senado e Câmara.
Puta merda, chego a pensar que foi é bom o Geraldo ter perdido pro Lula. Já imaginou este bando de gente incompetente no governo? Seria algo assim, um Governo Lula. Deus nos livre de um Governo Lula sem os lulistas!

(N.G.: é verdade, Ângelo. Tinham clipings de jornais de 2005 mas vídeos só das campanhas e debates de 2002, 1998 e 1994 - tudo muito organizado, diga-se de passagem. Mas nada de 2005. E acredito que a TV Senado e a TV Câmara não forneceriam as imagens em plena campanha - enrolariam a mais não poder. Algumas coisas requerem planejamento, organização prévia, etc. É difícil acreditar que não ocorreu a nenhum assessor parlamentar ou estrategista contratar uma produtora para gravar estas transmissões. É por isso que este pessoal toma tufo atrás de tufo. E para o seu conhecimento: a área de inteligência da campanha de Alckmin era a mesma da campanha de Serra. Para todos os efeitos, se empenharam igualmente em ambas as campanhas)