terça-feira, 25 de março de 2008

Quando o salto afunda na lama

Confesso: durante algum tempo, eu pensei que o salto fosse algo inerente aos tucanos. Uma certa dificuldade em descer ao nível do adversário. Foi assim, por exemplo, que eu justificava a derrota de Serra em 2002 - pelo menos aquela parte da derrota que poderia ser atribuída ao partido e seu candidato.

Em meados de 2005, porém, quando surgiram as primeiras denúncias contra Eduardo Azeredo e, ato contínuo, o tucanato começou a pedir pela governabilidade - ou, o que dá no mesmo, a defender a estratégia de "deixar Lula sangrar" - me pareceu óbvio que havia mais coisas por trás daquela pretensa elegância. Sucumbi, contudo, às explicações de que política não era coisa para inocentes.

Mas tal argumento não se sustentou por muito tempo. Porque o comportamento dos tucanos na campanha presidencial foi exatamente este: de uma inocência inexplicável - algo só aceitável entre freirinhas e menininhas de internato. E notem que a coisa seguia disfarçada de elegância: você propunha que Lula estava investindo em estradas na Bolivia, enquanto as nossas estavam em pedaços, e eles respondiam: " não podemos dizer isso porque esta é uma política externa acertada". Entendem? A campanha de Lula mentia descaradamente e os "elegantes" tucanos se negavam até mesmo a dar um outro ângulo para algumas questões. Isto no primeiro turno, é claro. Porque, e eu já cansei de falar isso aqui, a postura da campanha de Alckmin no segundo turno foi absolutamente denunciadora de que os tucanos não esperavam , e provavelmente não queriam, chegar ao segundo turno. Exceto pelo candidato - vide o debate da Band, onde ele superou sua própria natureza para ir na jugular de Lula - estavam todos ansiosos por terminar logo com aquilo.

Portanto, meus amiguinhos, não me venham agora com esta história da carochinha de que os tucanos vão se retirar da CPI dos Cartões em elegante protesto contra hegemonia dos governistas - que se negam a quebrar sigilos - ou, como querem alguns, para evitar um embate desigual, que exponha somente as mazelas tucanas.

Estão em minoria e não vão conseguir investigar qualquer coisa? Pois que aproveitassem o espaço e a visibilidade para jogar a lama lulopetista no ventilador. Mas se, ao contrário, preferem bater em retirada não é por elegância nem em protesto a coisa alguma. É porque, tal qual em 2005, os tucanos querem colocar uma pedra sobre o assunto antes que venha à tona a sua própria lama. E mais: tal qual ocorreu na campanha de 2006, os tucanos não vêem a hora de encerrar este assunto para poderem ir, cada um para o seu rincão, fazer alianças com aqueles que fingem combater.

3 comentários:

Dawran Numida disse...

Falta ao PSDB definir uma pauta de ação política que faça contraponto nos planos Federal, Estadual e Municipal. Fica visível a ausência de articulação e de bandeiras definidas quando da formação do partido: Parlamentarismo e modernização do Estado, por exemplo

marie tourvel disse...

Pois é, Nariz, é o que sempre peço: décadence avec élégance. Mas nem isso se tem, né não?

Robbiate disse...

Só não vê quem é cego ou não quer,mas a grande diferença entre PT e PSDB é a educação,uns são grossos e mal educados os outros refinados e conhecedores dos bons vinhos,mas ideologicamente
iguais,pensam como a esquerda e agem como a direita.
Ambos mentirosos compulsivos e seguem a famosa cartilha,"pirão pouco primeiro o meu".