quarta-feira, 28 de maio de 2008

Aos senhores Ministros do STF

Senhores,

Lembrem-se que os que discordam das pesquisas com embriões têm assegurado, desde sempre, o direito de não participarem das mesmas - e, principalmente, de não usufruirem dos benefícios que elas porventura venham a produzir.

Mas como o ser humano é muito hipócrita, e o que habita estas nossas terras o é um pouco mais, já prevejo o dia em que a maioria daqueles que hoje se opõem à ciência acederão à ela com gosto e sem qualquer constrangimento - quando estiver em jogo, por exemplo, a vida de um filho ou filha. Então, poderão mitigar o peso de suas tão religiosas consciências dizendo que rogaram para que os senhores desaprovassem tal coisa - mas que, dado que não foram ouvidos por Vossas Excelências, não verão mal algum em usufruir das benesses deste vosso "pecado".

17 comentários:

João Berg disse...

Touché Nariz!

Flávio disse...

Prezada Senhora:

Então, seguindo seu raciocínio: aqueles que defendem a pesquisa com células troncos de embriões não poderão reclamar se suas vidas forem eliminadas em nome da ciência e da razão.

(N.G.: consta que em algumas sociedades modernas alguns têm suas vidas eliminadas em nome da Justiça. E mesmo onde isto acontece, todos têm o direito à reclamação. A diferença é que, então, não há dúvidas de que todos os envolvidos são indivíduos vivos, reconhecidos como tal perante e Lei. No caso em tela, esta certeza fica à mercê da fé. E a fé, qualquer que seja ela, é boa para nortear privadamente, mas apenas privadamente, a vida de cada um - não para nortear decisões de Estado. A questão, senhor Flávio, é que a sua resposta já demonstra, pela indignação, uma clara pré-disposição em reclamar o direito de se beneficiar das pesquisas - caso elas sejam aprovadas por lei.)

Democracia disse...

Acho que a autora deste blog poderia doar varios embriõs aos abortistas....que achas?

(N.G.: acho que você é um belo exemplo do fanatismo histérico que permeia esta questão. De qualquer maneira, se embriões meus houvesse, findo o prazo de três anos eu os doaria sem problemas. Mas como não os há, deixarei para quem os têm decidir sobre o que fazer com eles.)

Zizinha disse...

Desculpe minha ignorância,mas o que é URL?
Bem nariz gelado,sou totalmente a favor das pesqui
sas; se for apelar p/ questões religiosas,lá está
na Bíblia:"Crescei,multiplicai e dominai a terra"
Ora,o que quer dizer esse "dominai"? é: fazei bom
uso do que nela tem ! então, usamos a inteligên-
cia que Deus nos dá,para crescermos no sentido de
progresso também,vc não acha? É claro que no mun-
do sempre haverá o lado "bandido" do ser humano ao
fazer mau uso das coisas; faz parte da natureza
humana;é só fazerem leis e regras éticas bem seve-
ras p/ ninguém se aventurar a trangredí-las.
Estou pedindo a Deus que ilumine esses Ministros
e que eles tenham COMPAIXÂO das pessoas que preci
sam tanto do avanço dessas pesquisas
Boa noite,
Zizinha

(N.G.: url é o endereço da sua página na internet - caso tenha uma. Seja bem-vinda, Zizinha)

Oliver disse...

Acho a imagem do penultimo papa ( antes do ultimo ) agonizando na janela de um mal que podia ser combatido pelas pesquisas com celulas-tronco o maior tapa na cara que merecem os catolicos desde a queima de cientistas na Idade Media. Ainda nao aprenderam nada, igualzinho ao PSDB, kkkkkk

Luiz Alberto Mezzomo disse...

Há, no mínimo, incertezas quanto ao inicio da vida. Ninguém pode afirmar com 100% de convicção o momento em que se inicia a vida, mesmo os defensores do aborto, em são consciência não têm certeza nesse ponto. Aqui vem o meu questionamento: Qual o motivo do açodamento e das reações iradas na defesa do aborto e das pesquisas com células embrionárias? É claro que todos queremos e saudamos as soluções da ciência para as doenças.
Mas é certo correr o risco ético de trocar uma vida por outra?
Comunistas e nazistas acham que sim.

(N.G.: como eu já disse, quando a ciência não chega a um acordo, o veredito é questão de fé. Como o Estado laico não deve legislar privilegiando questões de fé, é sensato que legisle no sentido de permitir a liberdade de escolha - no caso em questão, a liberdade individual de se doar ou não embriões para este tipo de pesquisa e/ou al liberdade de se usufruir ou não das benesses obtidas por este tipo de pesquisa. Eu só gostaria que alguém que é contrário à pesquisa com célullas-tronco embrionárias conseguisse argumentar sem trazer o nazismo e a eugenia para o debate. Fica parecendo aquela postura , um tanto rousseauniana, de proibir a fabricação de automóveis para evitar acidentes de trânsito.)

G. Figueiredo disse...

NG, confesso que eu não entendi bem a posição de alguns dos ministros do STF que já votaram. Não se pode fazer pesquisa com os embriões gerados “in vitro” pois têm direito à vida, porém mantê-los eternamente aprisionados em nitrogênio líquido pode? Então, eles ficam na prisão sem condenação? E que tipo de prisão é legal?

NG, você foi perfeita ao dizer que usem as suas crenças de forma privada. Parabéns! Aliás, a história está repleta de barbaridades feitas em nome da fé.
Safra64.

nelson disse...

eu sou a favor das pesquisas, mas tenho uma dúvida: se os cientistas dizem que conseguirão pegar as células desses embriões descartáveis e fazerem delas praticamente outros seres, por que eles não conseguem fazer com que esses mesmos embriões deixem de ser descartáveis e passem a ser, eles mesmos, fetos 'aproveitáveis'.

[]'s

Ranzinza disse...

NG,

Acho que há um erro muito grande neste seu argumento, uma crueldade até.

Seria como dizer que um cidadão que se negasse a servir o exército por motivos de consciência, por exemplo, não tem direito à segurança nacional.

Ou dizer que um funcionário que não se sindicaliza não tem direito ao aumento de salário negociado pelo sindicato.

A gente precisa ter uma visão mais generosa da ciência e de seus benefícios.

Foi um pouco petralha ao avesso este seu raciocínio.

Não patrulhemos as pessoas a ponto de sugerir que elas não têm direito aos benefícios daquilo que condenam.

Vejo fanatismo dos dois lados.

Se eu fosse do STF hoje votaria a favor, mas compreendo perfeitamente o problema ético envolvido.

(N.G.: e em qual momento eu disse que eles não têm esse direito? O que disse é que este barulho todo é apenas para mitigar-lhes as consciências - motivo pelo os ministros deveriam fazer-lhes ouvidos surdos)

Ranzinza disse...

Chamar de hipócrita é uma forma de condenar, pelo menos moralmente, o fato de virem a usufruir.

Acho que não é por aí.

(N.G.: e como é que você chama quem usufrui daquilo que diz condenar?)

Ranzinza disse...

NG,

Você sabe que eu sou seu leitor e gosto de suas colocações.

Não quero polemizar, mas já que você perguntou, aqui vai a minha resposta:

Eu não chamo, prefiro não condenar, porque é uma questão moral, totalmente legítima, de foro íntimo. Não é uma questão de capricho de consciência.

Se a lei aceita que os embriões sejam produzidos e descartados após alguns anos, então, juridicamente, não faz sentido proibir que sejam usados em pesquisa. A lei já não lhes garante o direito à vida.

Ponto final.

O resto foi obscurantismo e fé cega, inclusive na ciência, que pode às vezes não ter nada de laica. O próprio laicismo não pode se tornar uma forma de religião.

(N.G.: ranzinza, polemizar é bom. Areja as idéias. Se eu tivesse problemas com polêmica - ou se pensasse que porque alguém concorda com algumas das minhas idéias, deve concordar com todas - eu me acharia uma pessoa muito chata. rsrsrs Eu acho, sim, que há hipocrisia em se condenar uma prática e se querer fazer uso dela quando necessário. Mesmo que seja uma questão de foro íntimo. Porque, veja bem: procurar ou não a companhia de prostitutas é uma questão de foro íntimo, que não compete a ninguém julgar. Mas quando o cara forma uma "frente contra a prostituição" ou algo do gênero e, mais tarde, é flagrado com duas profissionais do sexo vamos dizer o quê dele? Que é hipócrita, certo?)

Ruy disse...

Nariz, querida, o Ranzinza tem um ponto. Achei perfeita a analogia com o funcionário que não se sindicaliza. Suponhamos que você, na sua profissão, se recuse a ser sindicalizada, com ótimos motivos (eu sou jornalista e rejeito a sindicalização, aliás). Se sua categoria obtiver um aumento, você vai devolver o dinheiro a mais?

Pense no seguinte: hoje, esse pessoal que se posiciona contra a liberação das pesquisas com embriões pode estar sinceramente cego (por um fanatismo ao qual, já se disse aqui, o outro lado não está imune) para os benefícios que essas pesquisas um dia poderão trazer. Isso não lhes tira o direito de usufruí-los quando eles se materializarem -a ciência é para todos-, muito menos o de mudar de opinião. O DEM também mudou de opinião no final da ditadura e hoje, aproveita as benesses da democracia -e nem por isso você chama os caras de hipócritas*.

Um grande beijo.

* Hehehe -desculpe, mas o "argumento do DEM" é irresistível. :)

(N.G.: Ruy, você está quase escorregando no mesmo erro da Matilde Ribeiro, naquela infeliz declaração sobre os negros odiarem os brancos: falar do DEM como se a totalidade de atores que o compõem fossem do período da ditadura. De qualquer forma, há um nome para quem não milita, não colabora, mas quer usufruir das benesses do sindicato. Qual é, você lembra? :-) Beijo)

Oswaldo disse...

Só uma perguntinha.

Nós nos alimentamos de quê?

Ruy disse...

Nariz, não importa que a "totalidade de atores que compõem" o DEM (quanta pompa) não seja egressa da ditadura. O fato, que você não tem como desmentir, é que alguns são, "viraram casaca" e hoje usufruem das benesses da democracia. Por que, para você, esses não são colocados na categoria dos "hipócritas"?

(N.G.: talvez porque não vejo ninguém do DEM, hoje, tentando atravancar qualquer coisa: nem a democracia, nem a ciência, em nome de crenças, Ruy. Ao passo que conheço uma boa dúzia de carolas que levantam bandeira contra a pesquisa de células troncos mas que, se na semana que vem,soubessem que sofrem de parkinson mudariam de idéia rapidinho. E eu já vivi suficiente - e já olhei a morte nos olhos um bom par de vezes - para saber que a maioria reagiria assim.)

E você não respondeu ao meu argumento principal, nem ao do Ranzinza -os benefícios da ciência são para todos, inclusive para os que, às vezes muito cegamente, discordam dela (pense em Oswaldo Cruz e na Revolta da Vacina). Também não respondeu se, não sendo sindicalizada, devolveria o dinheiro a mais que viesse a receber num acordo negociado por sindicato. Sinceramente, duvido que o fizesse.

(N.G.: não sei se devolveria ou não, Ruy. Mas mesmo que eu dissesse que sim, você duvidaria, certo?)

Por fim, acho que você deve ir com calma: tanto o Ranzinza como eu somos seus leitores e admiradores. Você parece tão emocionalmente envolvida com a história das células-tronco que tropeça nos próprios argumentos e se arrisca a tratar discordâncias pontuais como ofensa pessoal. Não faça isso. Um grande beijo.

(N.G.: posso ter tropeçado nos meus argumentos - quem não tropeça? Mas gostaria - gostaria mesmo - que você me dissesse onde dei margem para que você diga que tratei discordâncias pontuais como ofensa pessoal, Ruy. Fui ler minhas respostas a você e ao ao Ranzinza e, a menos que o simples fato de eu ter oferecido uma tréplica aos comentários de vocês já configure, por si só, um caráter de "ofensa pessoal", não encontrei qualquer tom ofensivo nelas.)

Luiz Alberto Mezzomo disse...

A sua respotas, irada, em 09:36 AM,apenas reforçou o meu questionamento. Qual a razão para as reações iradas? E note que em dmomento algum falei de religião, me referi apenas na questão do inicio da vida e do direito do ser embrionário viver.

(N.G.: mas qual é a demonstração de "ira" na minha resposta das 09:36 AM, Luiz Alberto? Especifique, por favor, quais foram as expressões e frases nas quais me mostrei "irada".)

Claudio Fonseca disse...

Relaxa, Nariz. Daqui há dez anos, quando ficar provado que células-tronco embrionárias causam, na sua maioria, apenas rejeição e tumores malignos, a Ciência vai usar as células-tronco adultas (extraídas, por exemplo, da polpa dos dentes), que são as que já funcionam. Aí, todo mundo vai poder usar, né?

Só não quero ouvir chororô quando as pessoas finalmente se tocarem que foram usadas para uma outra causa, se é que me entende...

Quanto ao Iluminismo de ocasião, lembrar que nunca se viu tanta morte na França quanto no período da Revolução Francesa, onde todos andavam muito inspirados pelos Voltaires da vida... Êpa, até que faz sentido! No fundo, uma coisa sempre está ligada a outra...

(N.G.: não entendi o "iluminismo de ocasião". Eu precisaria ter criticado o iluminismo em outras oportunidades - coisa que não fiz - para que esta sua acusação tivesse algum sentido, Cláudio. Alusões a Voltaire, em especial, são bem freqüentes por aqui. Já sobre as rejeições e tumores que as células tronco vão causar, eu só posso dizer que não acredito em videntes. Vou precisar que a ciência me prove que você está certo.)

Claudio Fonseca disse...

Calma, Nariz! Você é muito estressada! Só toquei no assunto do Iluminismo porque o que eu li sobre a decisão do STF reduzia a questão entre os iluminados da Ciência versus os obscurantistas católicos - redução que encontrei até aqui neste post, para minha decepção.

Quanto aos videntes, você não precisa acreditar neles, no que faz muito bem. Eu chutei 10 anos, confesso. Mas em menos tempo, todos vão chegar a esta conclusão. Alguns já chegaram, como é o caso de Natalia López Moratalla, presidente da Associação Espanhola de Bioética e Ética Médica. Textual: "As células-tronco embrionárias fracassaram; a esperança para os enfermos está nas células adultas." Ou se preferir, coloco aqui o placar do Dr. David A. Prentice, PhD da Universidade de Kansas, perito em pesquisas em células-tronco. Elas perdem por 73 a 0. "Setenta e três é o número de patologias até agora tratáveis com células-tronco adultas. Zero é o número de doenças que são tratadas, ou pelo menos aliviadas com as células-tronco embrionárias." Isso depois de 25 anos de pesquisas, como bem disse a revista Nature. Mas aqui no Brasil as coisas vão ser diferentes, claro! Como já li num blog por aí, as células-tronco vão servir, no mínimo, para se criarem mais mutantes de novelas da Record! Somos Mangueira, somos Framengo, somos vitória!

(N.G.: eu não estou estressada, Cláudio. Fico é impressionada como alguns de vocês lêem a simples tréplica aos seus comentários como um sinal de estress, ira ou ofensa. Dá a impressão de que gostariam de vir aqui opinar sem serem contestados. Só acho que é de bom tom saber sustentar o que se escreve - ou voltar atrás quando não se pode sustentar a coisa. Eu, por exemplo, admito: usei muito mal o termo "vidência", já que - coo eu mesma havia afirmado antes - as opiniões acadêmicas são muitas e diversas, gerando um quadro inconclusivo, só passível de esclarecimento mediante mais pesquisa. Você deveria apenas explicar o que quis dizer com "Iluminismo de ocasião" ao comentar um post meu).