quarta-feira, 14 de maio de 2008

Venezuela -> Brasil -> Argentina: a conexão mordaça

A diretora e o presidente-executivo do argentino Clarín denunciaram, ontem, que um grupo que apóia o governo Kirchner, o La Cámpora, está circulando e-mails ameaçadores contra a alta direção daquele jornal.

É o que informa matéria de hoje da nossa Folha de S. Paulo, na qual se pode ler também que, na semana passada, grupos de apoio ao governo andaram colando cartazes contra o jornal Clarín e o canal de notícias TN, pertencente ao mesmo grupo de comunicação, por toda a Buenos Aires.

Tais ataques, destaca o Clarín, ocorrem no momento em que o governo emite discursos hostis contra os meios de comunicação independentes. Ontem mesmo, informa a Folha, Cristina Kirchner voltou a reclamar da "visão pessimista" da imprensa: "Para eles, o importante é sempre mostrar que as coisas estão mal, horríveis e dar uma visão quase terrível da Argentina", queixou-se a presidente.

Não falta inspiração a Cristina Kirchner. Para além de todas as críticas, mais ou menos veladas, que faz à imprensa, em setembro último Lula emitiu uma muito parecida com esta apresentada, agora, pela mandatária argentina. Durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, no Palácio do Planalto, Lula afirmou que a imprensa estrangeira cobre o Brasil com mais competência porque a imprensa nacional é muito pessimista: "E sempre que acontece uma coisa boa nós ficamos procurando uma ruim para ficar justificando nosso discurso".

Também os grupos como o La Cámpora podem encontrar, em terras tupiniquins, inspiração para seus protestos. Pois não foi por aqui que, em outubro do ano passado, PT, CUT, MST e UNE realizaram manifestos contra a renovação de licenças das TVs Gazeta, Bandeirantes, Cultura e Globo?

Toda esta sanha por calar a imprensa é, por sua vez, tributária do chavismo. Foi Chávez quem inaugurou esta nova onda latino-americana de perseguição à liberdade de imprensa. Vem dele esta patética manobra discursiva de responder cada critica com a acusação de golpismo - assim como é dele a manobra de colocar a cachorrada nas ruas para tentar amordaçar este ou aquele veículo de comunicação.

Se esta sanha vai vingar ou não é coisa que depende de alguns fatores. Para não vingar é preciso, antes de mais nada, que os primeiros interessados - a saber, a imprensa e os formadores de opinião - admitam que há um alinhamento comportamental entre esta gente que está a governar a nuestra América. Ou seja: que esta uniformidade de atitude frente à liberdade de imprensa não é mera coincidência. Chamem como quiser: Foro de São Paulo, Clube do Chávez, Conspiração Bolivariana ou Conexão Mordaça. Só não façam vistas grossas - e tratem de começar a fazer continhas, juntando lé com cré, antes que seja tarde demais.

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