terça-feira, 11 de novembro de 2008

Eca!

Ou Paroquiana II

Da coluna Informe Político, no Diário Catarinense de hoje:

"Fato forte que pode ter diversos desdobramentos no cenário político catarinense: Lurian da Silva, a filha do presidente Lula,foi convidada pelo prefeito eleito de São José, Djalma Berger (PSB), para assumir a Secretaria de Ação Social do município."

Que eu saiba, a Lurian estuda Jornalismo (não sei se já se formou ou não). E sua única experiência em assistência social não terminou muito bem: consta que as investigações sobre aquela ONG de Blumenau correm, até hoje, em segredo de justiça - mas correm.

É por isso - porque é uma besteira sem tamanho se envolver com este pessoal - que eu vou dar o benefício da dúvida ao prefeito eleito. Por isso e porque, nos últimos meses, o autor da coluna deixou muito clara a sua posição política, sempre contrária os irmãos Dário e Djalma Berger, a quem ele atribui a perigosa formação de uma "oligarquia" na Grande Florianópolis - ainda que, quando oligarquia é Amin ele, aparentemente, não se preocupe.

Não voto em São José - não tenho, pois, nada a ver com a coisa. Mas seria uma lástima que Djalma Berger fizesse sua estréia em cargo executivo incorrendo em tão grave erro.

Paroquiana I

Dentro de 15 dias a Guarda Municipal de Florianópolis estará portando armas. O convênio, assinado ontem, tem dividido a cidade: de um lado, os realistas - que sabem que, no Brasil, polícia desarmada não tem a menor chance. De outro, os pacifista que - a fim de evitar um hipotético uso abusivo das armas por parte de um guarda municipal - preferem que a corporação siga sendo alvo de riscos e humilhações.

Não faz muito tempo, tive a oportunidade de ouvir Ildo Rosa, secretário de Defesa do Cidadão de Florianópolis, falar sobre o treinamento pelo qual estavam passando os 150 integrantes da Guarda Municipal - que é o mesmo da Polícia Civil. E sou bem tranqüila em dizer: prefiro conviver com o risco de que um policial desequilibrado venha, porventura, fazer uma besteira do que com a hipótese, muito concreta, de ser assaltada na saída de um banco, diante do olhar impotente de um membro da Guarda Municipal.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Boa noite, Mr. Guavaman's

Estou desde o final da manhã tentando escrever este post.

O problema é que eu escrevo e reescrevo e sempre fica piegas. E a última coisa que ele - o midas do brega-cult, o homem capaz de dar charme a gente como Nelson Ned, Waldick Soriano e Neil Diamond - merece nesta hora é um post piegas.

É que lá nos idos de 2003 entrei naquele blog e disse "eu também quero!" - notem que não foi um "eu também posso!", porque eu sempre soube que jamais chegaria ao mindinho dele. E agora ele, o mestre, o Yoda (ele vai me matar por essa) de toda uma geração de blogueiros, está de partida.

Ruy Goiaba, senhores, acaba de sair da web para entrar na História (eis a pieguice!). Mas sai com a promessa de nos apresentar, em breve, o Rogério que - eu sei do que estou falando - também vai arrasar.

Ainda assim, eu não poderia deixar de fazer uma despedida para o Ruy Goiaba. Por isso, aqui vai um boa noite especial pra ele .

My my, how can I resist you, Mr. Guavaman's?



quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Deus salve a América

Estou certa de que alguém já escreveu isso. Mas eu não tenho acompanhado os blogs políticos*. Portanto, qualquer coincidência não é plágio - mas apenas falta de tempo e, se quiserem, de informação.

Tente enxergar através de todo o frisson provocado pela candidatura de Barack Obama e você vai descobrir uma só afirmação: para a maioria dos terráqueos, se Obama perdesse esta eleição ficaria comprovado que os EUA não superaram o racismo.

Quem votou em Obama, é claro, o fez por ideologia, pela crise econômica, por uma suposta renovação das relações internacionais - que os imberbes políticos costumam postular aos democratas, esquecendo que um presidente americano governa sempre para os americanos. Mas quem não votou em Obama o fez por racismo puro e simples - acusação que o terráqueo médio descobriu, muito recentemente, que pode sofisticar mediante o emprego da sigla wasp, white, anglo-saxon and protestant.

A lição é clara: para a maioria dos terráqueos, o maniqueísmo ainda é o melhor cabo eleitoral (outro dia, em outro país, quem não votasse em um ex-operário-nordestino também o fazia movido por preconceito).

Ocorre que os americanos conhecem, como poucos, a força do maniqueísmo. Ou não é verdade que, por décadas, eles fizeram uso da coisa para construir, tanto para si mesmos quanto para os demais terráqueos, a imagem de heróis? Ou não eram eles que dividiam o mundo entre bons e maus - pouco importando se, a cada época, os maus se chamassem nazistas, comunistas ou terroristas?

Pois a simbologia do herói - construída através de tantos meios mas, em especial, através do cinema - ganhou tamanha força na sociedade americana que, desconfio eu, passou a suplantar qualquer outra questão. Penso mesmo que, exceto em redutos muito específicos, passíveis de serem encontrados em qualquer país - e quem vive no sul do Brasil sabe o quanto isso é verdade - a cor da pele não foi a pauta dominante na eleição de ontem. Pode ter sido a pauta da imprensa internacional que cobriu a eleição de ontem - mas certamente não foi a pauta principal para americanos.

Na minha modesta opinião, diferentemente do que aconteceu aos demais terráqueos, os americanos não caíram no conto maniqueísta da cor da pele. Obama poderia preocupar os conservadores muito mais por seu multiculturalismo - sua tão alardeada proximidade com o islamismo, por exemplo - do que pelo fato de ser negro.

Penso que mais do que um candidato negro e um candidato branco, a eleição americana opôs dois tipos diferentes de heróis - e, com eles, dois mitos fundacionais dos EUA. De um lado, o herói militar que, a fim de levar a liberdade e a democracia para o restante do mundo enfrentou, corajosamente, os horrores da guerra - e da tortura vietnamita. De outro, o herói social que, a fim realizar a democracia americana em solo pátrio enfrentou, também corajosamente, preconceitos raciais.

De um lado, John MacCain, defendendo o mito fundacional da Divina Providência - aquele representado por uma jovem mulher empunhando uma tocha e que nos fala da missão americana de espalhar liberdade e democracia mundo a fora. De outro, Barack Obama, defendendo o mito da Terra das Oportunidades - que nos fala da igualdade de condições que permite a todo cidadadão americano subir na escala social por méritos próprios.

O discurso de Obama, nesta madrugada, que resume com primor o mito fundacional da Terra das Oportunidades, não me deixa mentir: "se há pessoas lá fora que ainda têm dúvidas de que a América é o lugar onde todas as coisas são possíveis, que duvidam que os sonhos dos nossos fundadores ainda estão vivos, se ainda questionam o poder da nossa democracia, esta noite, elas tem a sua resposta".

Por mais que verbalizem sua preocupação com a imagem internacional dos EUA - e por mais que tentem, discursivamente, colar em Obama as esperanças de melhores relações externas - os americanos acabam de escolher um herói que diz respeito aos seus movimentos internos. Os "lá de fora", para usar a expressão do próprio Obama, podem ser levemente tocados por este mito que, na sua origem, prometia oportunidades iguais também aos imigrantes - condição, enfim, dos próprios fundadores da nação. Mas serão apenas levemente tocados posto que os tempos são outros e, nas últimas décadas, este mito passou por mutações que tendem excluir quem não nasceu em solo americano.

Resta que quem admira os EUA exatamente como eles são só pode comemorar a vitória da Obama. Assim como poderia comemorar, igualmente, a vitória de MacCain. Porque, a despeito dos discursos eleitorais, ambos são a reafirmação de mitos fundacionais daquela nação. E nenhuma mudança significativa, nenhuma mudança que altere o american way irá ocorrer. Graças a Deus.

*Sigo atolada em trabalho, sem condições de atualizar o blog com antiga freqüência. Se ainda não fechei a bodega é porque sei que, em breve, a poeira vai baixar e poderei retornar ao velho hábito. Até lá, conto com a compreensão de vocês.