quarta-feira, 11 de março de 2009

Macarrônica

A aposta* de hoje acabou resultando em egotrip.

Pois eu acho que descobri uma explicação psicológica para que o macarrão seja o meu prato predileto - comfort food por excelência, a evocar o bem-estar e os prazeres da infância.

É que eu simplesmente não consegui associar macarrão aos temas usualmente tratados por este blog. Nem mesmo a imagem de gângsters, reunidos em torno de um bom macarrão al sugo, ajudou. Há, entre aqueles Pacinos, Brandons e De Niros, sempre metidos em elegantes ternos risca-de-giz, um charme e, até mesmo, uma ética que passaram longe de Brasília.

A solução do enigma é que não encontro, na minha memória afetiva, qualquer associação negativa com a pasta. Das receitas que herdei da nona, passando pela perfeição do macarrão da minha mana, tudo é prazer neste mundo fumegante. Quando não é humor macarrônico mesmo. E há, na memória oral da família, pelo menos uma passagem que vale nota.

Diz a lenda que, todos os domingos, o nono sentava para almoçar com a roupa da missa. A camisa, muito branca e engomada, era motivo de preocupação para a nona, que passava o tempo todo avisando: "cuidado com o molho do macarrão. Não vá mancha a roupa".

E lá se passaram os anos, o aviso dominical repetido à exaustão, para diversão de todos e, soubemos depois, profundo incômodo do nono. Porque em um belo dia, ao ouvir o alerta da dedicada esposa, o nono, para supremo delírio da criançada, enfiou as duas mãos no prato de macarronada e passou-as por toda a extensão da imaculada camisa. Foi um lambuzo do cão, ao final do qual ele perguntou, com a maior calma do mundo: "E agora, posso mangiare em paz?"

*Aposta é uma blogagem coletiva que rola, de tempos em tempos, entre os condôminos do portal.,

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