sábado, 17 de outubro de 2009

2010: a biruta louca

Ao sabor da sanha eleitoral, o cenário político anda parecendo uma biruta louca.

De um lado, Lula e a sua "caravana da transposição" - o presidente inaugurou os discursos, falando que torce por um confronto entre Serra e Dilma. Ele, como sempre - embora tenha gente de memória curta que se diz supresa com a atitude - subiu o tom do discurso, falando que quer o "nós contra eles". Bobagem se escandalizar com isso. Todos os discursos de Lula ao longo de 2006 são neste mesmo tom. Ele faz o que quer - e não há TSE para enquandrá-lo. Ponto.

Do outro lado, a relutância do PSDB em definir se o candidato é Serra ou Aécio. Mas também é verdade que o acaso acabou trabalhando para que, na mesma semana em que Lula subiu o tom, o marqueteiro predileto de José Serra ganhasse destaque na imprensa. Palestrante do seminário "O Efeito Obama", promovido pela Universidade George Washington em São Paulo, Luiz Gonzales foi quem melhor bateu na pré-candidata petista - "a mulher que ninguém sabe de onde veio", foi sua boa definição para uma candididata cuja biografia quando não é obscura é pouco recomendável. (González fez outras boas declarações que, se der tempo, quero comentar hoje ou amanhã). O fato é que, o tal seminário conspirou para tirar o marqueteiro tucano de sua elogiável discrição e colocá-lo na linha de frente. E ele fez melhor que qualquer medalhão do PSDB.

No meio-campo da indefinição tucana, aparece o DEM. E aparece rachado. Segundo a Folha de S. Paulo de hoje, Bornhausen e Kassab apoiam Serra, enquanto ACM Neto e Agripino Maia apoiam Aécio. Não é grave. Eles acabam de entendendo. O Dr. Jorge Bornhausen passando por cima do episódio Roseana Sarney/2002 para apoiar José Serra não me deixa mentir: na hora certa, eles pulam para dentro do projeto - qualquer que seja o projeto.

Na esfera estadual a coisa não está diferente - é a mesma biruta girando, louca, ao sabor de todas as vaidades. Pelo menos por aqui, onde o DEM, PSDB e PMDB parecem a um triz de lançar candidaturas independentes da Tríplice Aliança que elegeu Luiz Henrique em 2002 e 2006. O próprio governador parece estar se lixando para a dita cuja. Foi para a Rússia e deixou o moribundo eleitoral, e presidente do PMDB, dono de portentosos 6% na última pesquisa, delirando com uma aliança petista que o conduza ao Palácio da Agronômica (o equivalente nacional seria Sergio Guerra insistir em ser o candidato tucano à presidência só porque tem o comando do partido).

De minha parte, acho que muita água vai passar sob essa ponte - tanto lá quanto cá. O que hoje parece, amanhã não será.

Na ala governista, não acredito que vão ser infantis a ponto de desprezar uma lógica simples: Dilma precisa de um vice forte no sul e sudeste. Cone de trânsito, ela não tem qualquer identificação com sua região de origem mas tende a herdar boa parte do desempenho de Lula no norte e nordeste do país. A aprovação do presidente segue bem alta, o que indica uma eleição de continuidade, principalmente nos estados onde ele imperou, absoluto, em 2006. Penso que, quando o jogo for para valer, Lula vai buscar um nome que possa garantir mais votos ao sul.

Já os tucanos só não decidem a eleição hoje porque não querem. Uma chapa com Serra presidente e Aécio vice garantiria os votos mineiros e cariocas - que tanta falta fizeram em 2006. A eleição seria decidida no sul e sudeste. Passo seguinte, ignorar Dilma, Lula, PT ou qualquer discurso sobre ética - ninguém liga mesmo - e apresentar propostas concretas para melhorar a vida dos brasileiros. Não é preciso muito, não. Basta garantir a continuidade da bolsa esmola e da política econômica que agrada aos banqueiros. Depois, apresentar um projeto revolucionário para a saúde - este bem de satisfação infinita, preocupação primeira do eleitor brasileiro, que o governo Lula esqueceu e no qual Serra tem um excelente histórico. Mais fácil que tirar pirulito de criança.

O que os tucanos estão esperando? Não sei. Talvez que Aécio passeie um pouco mais com Lula, pegando carona em sua popularidade, antes de virar-lhe as costas. Ou, quem sabe, estejam apenas se deixando levar pelo vento que sacode a biruta.

4 comentários:

Zinha disse...

Sabe o que tenho a impressão,NG?
É que o PSDB tem medo de mostrar já os candidatos e começarem a aparecer "lindos dossiês" minando as candidaturas...

Porque em matéria de dossiês, a petralhada é craque!

Anônimo disse...

Oi Nariz!
Estou assistindo uma série do Nat Geo sobre a Segunda Guerra Mundial e lembrei de ti. Estou tentando baixar o cartazinho Keep Calm and Carry On que a Inglaterra usou na época, maravilhoso e acho que tudo a ver com a nossa fase aqui :(
Tem na internet pra downlodear.
Beijocas

Adalberto Braga disse...

Alkimim perdeu a oportunidade de matar o segundo mandato de Lulla naquele debate ao tomar as mentiras do adversário como acusações. Deveria ter mostrado o exemplo da Vale e prometido que a prioridade nas privatizações para um governo Tucano seria a venda, em leilão público de todos os Deputados e Senadores que o PT “estatizou” na compra dos “mensaleiros”.

Oliver disse...

NARIZ

Eu diria que, para ser governo hoje em dia, há um preço a ser pago. E o PSDB não me parece disposto a pagá-lo. Simples assim. Se eu tivesse que sair da zona de conforto e apostar toda a minha reputação para governar esse bando de idiotas que apóiam o chefe da quadrilha eu também estaria em dúvida. O Brasil que sobrou deste golpe socialista não merece nada além de pagar a conta do seu próprio descaso. O buraco é bem maior e bem mais embaixo, querida. Só uma grande dose de coragem, beirando a estupidez, faria o presidente da Bélgica ( Sampa ) que faz um ótimo governo por lá, se aventurar a se candidatar também a ser presidente do Congo ( o resto, lá em cima ). São dois países, querida. E ambos adoram seus presidentes e seus respectivos projetos de governo. Eu já morei em tudo que é lugar do país e isto não é um preconceito. Existem belgas no Congo e vice-versa. Ponto. Para derrubar este muro de Berlim é necessário primeiro que ele caia sozinho, de podre. Ou que acabe o dinheiro. Ou ainda que não se entendam na divisão do roubo. E a geração inteira do Xico Buraco, aquele cantorzinho chinfrim, precisa morrer primeiro, parando de infestar as redações de moscas e de ideologias mortas e enterradas. Só aí teremos alguma chance. Por via das dúvidas, a mala continua pronta. Ainda é a melhor saída para quem insiste em viver honestamente.