terça-feira, 9 de julho de 2013

Snowden vai salvar Dilma - e a oposição vai ficar vendo a banda passar.

Antes de tudo: não estou aqui referendando o monitoramento que os EUA estariam operando em outros países.  Penso, sim, que é de uma extrema ingenuidade nossas autoridades tratarem a coisa como se fosse a descoberta da roda.

Quer dizer que altíssimas patentes do Governo Federal e da Defesa acreditavam, até o último final de semana, que o país que inventou a internet e a telefonia celular, e que vive sob ameaça terrorista, não estaria bisbilhotando as comunicações através do mundo.?

Ai, me poupem, por favor. Seria o caso de recomendar menos Pollyanna e mais seriados de televisão – que são ficção, ok, mas carregam consigo alguma verossimilhança. Só que certamente não é este o caso.

O governo e os serviços de inteligência nacionais devem saber – ou no mínimo desconfiar - que isto ocorre há anos.  O que aconteceu, agora, é que as revelações de Edward Snowden a respeito do monitoramento das comunicações no Brasil vieram a calhar. Eu imagino até a Dilma fazendo uma dança comemorativa - no pior estilo Ângela Guadagnin, lembram? – ao saber que os documentos de Snowden incluíam a nação.

Não é novidade que Hugo Chavez fez escola com este pessoal que hoje nos governa.  Logo, o que é melhor para um governo, cujo povo anda nas ruas a reclamar de tudo e por tudo, do que encontrar um inimigo externo? Muda-se a agenda do dia para noite. Na pior das hipóteses, os gatos pingados que ainda persistem nas ruas começam  a produzir cartazes contra os yankees. Na melhor, vão pra casa porque a nação foi ameaçada é a hora é de união.

A operação de venezuelização começou já no domingo com a matéria do Fantástico.  A imprensa, afobada,  embarcou na onda com a manchete “o Brasil é o país da América Latina mais monitorado pelos EUA" – uma estupidez quando consideramos que se os EUA estão monitorando a América Latina, e o Brasil é o maior país da América Latina, só pode ter o maior volume de comunicações e, portanto, ser o mais monitorado.

Mas o fato é que a tolice sensacionalista colou e, já na segunda-feira, os ânimos entre membros do governo e do parlamento estavam a tal ponto inflamados que não houve espaço para uma voz mais sensata, que tentasse dizer “respira aí minha gente, antes de sair a dizer - e fazer -  bobagens”.

De ontem para cá o clima foi de histeria. Ideli Salvatti – cujas fofocas palacianas davam conta de que estaria na frigideira de Dilma – renasceu para avisar que a soberania nacional está em xeque e – malandragem da primeira hora – querer apressar a votação do marco civil da internet na Câmara.  Os plenários do Senado e da Câmara, aliás, viram discursos inflamados,  como não se via há semanas – pelo menos, desde meados de junho, quando todos passaram a adotar um tom mais humilde de taciturno.

Hoje, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, foram aprovados requerimentos para se ouvir legiões: do colunista do The Guardian aos representantes do Google e do Facebook, estão todos convidados. A mesma comissão também aprovou um voto, a ser encaminhado à Presidência da República, em que manifesta apoio a um eventual pedido de asilo ao governo brasileiro por Edward Snowden.

Vinda do governo, a patacoada sem precedentes não espanta. Como eu disse acima, as revelações de Edward Snowden acabaram oferecendo uma bela oportunidade de mudança de ares  na pauta nacional. O que assusta é que parlamentares da oposição estejam caindo neste jogo.

Entende-se que a oposição não possa  ir a público dizer “calma gente, não é bem assim”, sob pena de ser acusada, pelos governistas, de “traição à pátria”. Mas que ao menos guardasse um silêncio cauteloso antes de cair na arapuca que o destino armou e Dilma agarrou com unhas e dentes. 

Um comentário:

Zé Alcides disse...

Certo em tudo.
Será que não há alguma mensagem de amor entre Lula e Rose?